OBSERVAÇÕES QUANTO AO
COPIA (DO TEXTO ORIGINAL) E COLA (NO BLOG).
1
– Parte da formatação original foi alterada pelo blog.
2
– O blog não copiou as figuras.
3 – As Notas de Rodapé, que no original estão ao pé da página, aqui no blog estão
ao final da publicação.
4 - FACE AS DIFICULDADES ENCONTRADAS A PUBLICAÇÃO SERÁ POR PARTES:
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O MAPA DA SUPERVISÃO EDUCACIONAL EM DUQUE DE CAXIAS - 2000 a 2016.
PARTE 1
UNIVERSIDADE DO GRANDE RIO – UNIGRANRIO
PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA – PROPEP
Programa de Pós-Graduação em Humanidades, Culturas
e Artes – PPGHCA
Mestrado Acadêmico em Humanidades
OSMEIRE PINHEIRO DE MATOS
O MAPA DA SUPERVISÃO
EDUCACIONAL EM DUQUE DE CAXIAS: As transformações
ocorridas na Secretaria
Municipal de Educação de Duque de Caxias/RJ nos de 2000 a 2016.
Dissertação apresentada à Universidade do Grande Rio como requisito
parcial para obtenção de título de Mestre em Humanidades, Culturas e Artes.
Orientadora:
Prof.ª. Dra. Jacqueline Cássia Pinheiro Lima
Duque de Caxias/RJ
2018
Dados de
Catalogação-na-Publicação
M433m Matos, Osmeire Pinheiro
de.
O mapa da supervisão educacional em Duque de Caxias : as
transformações
ocorridas na Secretaria
Municipal de Educação de
Duque
de Caxias/RJ nos de 2000 a 2016 / Osmeire Pinheiro de
Matos. – 2018.
186
f.; 30 cm.
Orientadora
: Prof.ª Dra. Jacqueline Cássia Pinheiro Lima
Dissertação
(Mestrado em Humanidades, Culturas e Artes)
–
Unigranrio, 2017.
1. Supervisão educacional. 2. Formação profissional. 3.
Secretaria Municipal de Educação de Duque de
Caxias/RJ.
I.
Lima, Jacqueline Cássia Pinheiro. II. Unigranrio
–
Dissertação
(Mestrado em Humanidades, Culturas e Artes).
III. Título.
CDD
370.113072
|
Elaboração:
Irany Gomes Barros – CRB/7-3569
O MAPA DA SUPERVISÃO
EDUCACIONAL EM DUQUE DE CAXIAS: As transformações
ocorridas na Secretaria
Municipal de Educação de Duque de Caxias/RJ nos anos de 2000 a 2016.
Esta dissertação foi avaliada e aprovada
em 16/03/2018 para obtenção do título de Mestre em
Humanidades, Culturas e Artes, pela Unigranrio.
Membros da Banca:
Prof.ª Drª Jurema Rosa Lopes
Unigranrio
Prof.ª Drª Alexandra Garcia Ferreira Lima –
UERJ
Dedico esta pesquisa
a todos que de alguma forma colaboraram para que tudo acontecesse,
principalmente a Deus que na sua infinita sabedoria me proporcionou esta
oportunidade de estudar, à minha família, por ter tido paciência em todos os
momentos de luta, a minha querida mãe, que sempre me incentivou a crescer, aos
meus professores e amigos, que enriqueceram minha caminhada com suas
experiências para que eu pudesse concluir mais um estudo.
A Deus, por permitir que eu conhecesse
tantas pessoas boas nesta caminhada.
Aos meus amados mestres, por me
direcionarem para o caminho certo na construção deste conhecimento tão valioso,
em especial à minha orientadora, Profª. Drª. Jacqueline, à Profª Fátima Davi,
no empenho em pesquisar o assunto, considerando-o essencial para a história da
cidade, trazendo informações também do Centro de Memórias, o qual preside, e a
todos os supervisores que colaboraram nesta pesquisa, destacando as Profªs
Luciana Arêas e Ilza Luzia.
À minha família, por ficar ao meu lado,
sendo solidária em todos os momentos, não permitindo que eu desistisse.
À Universidade Unigranrio, pela
oportunidade de realizar um sonho tão almejado.
Aos autores que se dedicaram a
escrever sobre o tema, aos pesquisadores, aos anônimos, enfim, a todos que de
alguma forma contribuíram para que eu chegasse até aqui e pudesse apresentar um
pouquinho da história deste Município.
Precisamos conhecer o que fomos, para compreender o que somos e decidir
o que seremos. (PAULO FREIRE, 1983, p.33).
RESUMO
Esta dissertação tem como tema: O mapa da
Supervisão Educacional em Duque de Caxias: As transformações ocorridas na Secretaria Municipal de Educação
de Duque de Caxias/RJ nos anos de 2000 a 2016. Busquei analisar até que ponto a
função de supervisora exerce influência no desempenho das equipes das escolas
municipais de Duque de Caxias — RJ. Sua construção foi baseada em uma revisão
de literatura e um estudo de caso. Como instrumento de coleta de dados, foram
utilizadas entrevistas semiestruturadas com os supervisores educacionais da
Coordenadoria de Supervisão e Orientação Educacional e com Supervisoras
aposentadas e observação participante. Foram recolhidos alguns dados referentes
ao funcionamento da equipe de supervisão da SME/DC durante o período
pesquisado. Especificamente busquei descrever a função do Supervisor
Educacional durante as últimas gestões municipais de Duque de Caxias-RJ —
período de 2000 a 2016, além de relacionar os resultados obtidos pelas
equipes escolares, após as formações e as intervenções adotadas pela Supervisão
Educacional da Secretaria Municipal de Educação de Duque de Caxias-RJ. Após
a pesquisa, foi constatado que o Supervisor Educacional exerce mais influência
no cotidiano escolar, na parte administrativa do que na parte pedagógica, pois
há presença de outros fatores como: a política adotada pela gestão municipal,
que interfere diretamente na atuação do Supervisor Educacional; a estrutura
escolar, que dificulta muitas vezes o fazer pedagógico e dos profissionais
envolvidos no contexto escolar. Portanto, a influência do Supervisor
Educacional depende do contexto escolar e da política adotada no momento pelo
poder público municipal.
Palavras-chave: Educação Pública.
Gestão Pública. Supervisão Educacional
ABSTRACT
The theme of this dissertation is the Map of Educational Supervision in
Duque de Caxias: the transformations occurred in Duque de
Caxias’ Municipal Board of Education from 2000 to 2016. My intention was to
analyze to what extent the work of supervisor has an influence on the
performance of Duque de Caxias/RJ municipal schools’ teams. It was written
based on a revision of the literature and a case study. Semi-structured surveys
were used as a form of instrument of data collection with educational
supervisors of the Department of Supervision and Educational Guidance as well
as with retired supervisors and observation in action. Some data were collected
regarding the functioning of SME/DC supervision team during the researched
period. Specifically we tried to describe the function of the Educational
Supervisor over the last municipal public administrations in Duque de Caxias –
from 2000 up to 2016. Besides, the intention was also to relate the outcomes
achieved by the school teams, after intervention and training carried by the
Educational Supervision of Duque de Caxias Municipal Board of Education. After
the research, it could be seen that the educational supervisor has more
influence on the school’s day-to-day, more in that which concerns the
administration than the teaching process. This is because there are other
factors involved: the politics applied by the municipal public office, which
totally interferes on the performance of the Educational Supervisor; the school
structure, which, quite frequently, makes more difficult the teaching practice and
the jobs of other professionals involved in the school context. Therefore, the
influence of the Educational Supervisor depends on the school context and the
politics conducted by the current municipal public power.
Keywords: Public Education; Public management;
Educational Supervision
TABELA 01 – Quantitativo de Escolas e alunos
da Rede Municipal de
Duque 075
de
Caxias, entre os anos 1996 a 2016.
TABELA 02
– Quantitativo de Supervisores Educacionais entre 2000 e
2016. 103
GRÁFICO 01 - Quantitativo
de Supervisores Educacionais entre 2000 e
2016 103
GRELHA 01 – Papel da
CSOE/SME/DC. 112
GRELHA 02 - Intervenção da Supervisão no Cotidiano
Escolar. 115
GRELHA 03 – Resultados obtidos após intervenção da
Supervisão
Educacional nas
escolas. 117
FIGURA 01 – O mapa do Município de Duque de
Caxias 060
FIGURA 02 – Capa da Agenda de Supervisores da DSE,
2009 089
FIGURA 03 – Foto de participantes da Jornada
Administrativa
2015 099
FIGURA 04 – Foto de participantes da Jornada
Administrativa
2015 099
FIGURA 05 – Foto de participantes e Supervisores da
Jornada Administrativa
2016 100
FIGURA 06 – Foto de participantes da Jornada
Administrativa
2016 100
FIGURA 07 – Foto de participantes da Jornada
Administrativa
2016 101
FIGURA 08 – Foto de participantes da Jornada
Administrativa
2016 101
FIGURA 09 – Foto de participantes da Jornada
Administrativa 2016 101
FIGURA 10 – Foto de participantes da Jornada
Administrativa
2016 101
FIGURA 11 – Foto de lembrança da Jornada
Administrativa
2016 101
LISTA DE ABREVIATURAS
ABNT
|
Associação Brasileira de Normas Técnicas
|
ANDE
|
Associação Nacional de Educação
|
ANPED
|
Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação
|
CAE
|
Coordenadoria de
Assistência ao Educando
|
CAESC
|
Coordenadoria de
Alimentação Escolar
|
CBE
|
Conferência Brasileira de Educação
|
CEDES
|
Centro de Estudo e Desenvolvimento Educação & Sociedade
|
CEE
|
Conselho Estadual de Educação
|
CEF
|
Coordenadoria de Ensino Fundamental
|
CFE
|
Conselho Federal de Educação
|
CIEP
|
Centro Integrado de Educação Pública
|
CME
|
Conselho Municipal de Educação
|
CNE
|
Conselho Nacional de Educação
|
COIE
|
Coordenadoria de Inspeção Escolar
|
CP
|
Conselho Pleno
|
CPEM
|
Comissão de Planejamento da Educação Municipal
|
CPFPF
|
Centro de Pesquisa e Formação Paulo Freire
|
CRIE
|
Coordenação Regional de Inspeção Escolar
|
CSOE
|
Coordenadoria de Supervisão e Orientação Educacional
|
COTRAN
|
Coordenadoria de Transporte
|
DC
|
Duque de Caxias
|
DEC
|
Departamento de Educação e Cultura
|
DGE
|
Departamento Geral de Educação
|
DSE
|
Divisão de Supervisão Educacional
|
ESSE
|
Equipe de Supervisão Educacional
|
ETP
|
Equipe Técnico-pedagógica
|
FORPEG
|
Formação Pedagógica para Gestores
|
GE
|
Grupo de Estudos
|
GS
|
Gabinete do Secretário
|
IEDUCAR
|
Sistema de Gestão de Educação de Duque de Caxias
|
INEP
|
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
|
LDBEN
|
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
|
MEC
|
Ministério da Educação e Cultura
|
MOBRAL
|
Movimento Brasileiro de Alfabetização
|
OE
|
Orientador Educacional
|
OP
|
Orientador Pedagógico
|
PEE
|
Programa Especial de Educação
|
PL
|
Projeto de Lei
|
PMDC
|
Prefeitura Municipal de Duque de Caxias
|
PME
|
Plano Municipal de Educação
|
PPP
|
Projeto Político-Pedagógico
|
PNE
|
Plano Nacional de Educação
|
PSS
|
Processo Seletivo Simplificado
|
RJ
|
Rio de Janeiro
|
SSAGP
|
Subsecretaria de Administração e Gestão de Pessoal
|
SEEDUC
|
Secretaria de Estado de Educação
|
SIE
|
Serviço de Inspeção Escolar
|
SMA
|
Secretaria Municipal de Administração
|
SME
|
Secretaria Municipal de Educação
|
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 020
1. O MAPA DA SUPERVISÃO
EDUCACIONAL 027
1.1 Caminhos da
Pedagogia 029
1.1.1 O Curso
de Pedagogia como Ciências da
Educação 038
2. SUPERVISÃO 042
2.1 O termo
Supervisão 043
2.2 O papel do
Supervisor
Educacional 045
2.3 Abordagem
da Supervisão nas
escolas 049
2.4 A
Supervisão Educacional e os
desafíos 051
2.5 Supervisão Educacional e o exercício da
Democracia 054
3. HISTÓRICO DA
SUPERVISÃO 058
3.1 O Município de Duque de
Caxias 060
3.2 A Supervisão Educacional no Municipio de Duque
de
Caxias 062
3.3 A Supervisão na Gestão Municipal entre 2001 a
2004 07
3.4 A Supervisão na Gestão Municipal entre 2005 a
2008 082
3.5 A Supervisão na Gestão Municipal entre 2009 a 2012 084
3.6 A Supervisão na Gestão Municipal entre 2013 a
2016 091
4. MARCO
METODOLÓGICO 106
4.1 Tipo de nível de
investigação 106
4.2 Sujeitos da
Pesquisa 109
4.3
Amostra 110
4.4 Alcance de
Investigação 110
4.5 Análise dos
dados 110
4.6 Organização dos
resultados 111
4.7 Questões envolvendo a pesquisa com seres
humanos 122
CONCLUSÃO 123
RECOMENDAÇÕES 125
REFERÊNCIAS 127
ANEXOS 137
APÊNDICES 16
APRESENTAÇÃO
Supervisão,
esse nome às vezes assusta, mas com o tempo as pessoas vão se acostumando e
percebendo que o termo não condiz com a atuação do profissional que está
diariamente nas escolas e com o objetivo de fazer o acompanhamento dos
trabalhos, realizados de forma a contribuir para o seu melhor funcionamento.
Hoje
não cabe mais aquele profissional que fiscaliza, mesmo porque a
concepção de Educação encontrada na equipe de supervisores não
condiz com um profissional fiscalizador.
Entendemos
Educação como forma de mudança social, e esta só se faz com colaboração, com
amor, com conhecimento das pessoas que estão envolvidas no processo ensino e
aprendizagem, com respeito às diferenças e com humildade.
Cabe
ressaltar que o termo foi empregado na pesquisa por ser o mesmo empregado na
Rede Municipal, servindo como forma de identificar e diferenciar o profissional
que atua na escola do profissional que atua no órgão central.
Foi um estudo gratificante por se tratar do meu
ambiente de trabalho, que merece ter sua história registrada, pois contribui
para que a Educação de Duque de Caxias aconteça de forma mais humana e
democrática. O supervisor municipal é um profissional que atua diretamente nas
escolas, se envolvendo em seu cotidiano e fazendo parte dele, de forma que se
sente responsável por contribuir para a melhoria da Educação no município.
Essa história não pode se perder e, ao pesquisar,
percebi que não havia muitos dados. Busquei então parceria com o Centro de
Pesquisa, Memória e História da Educação da Cidade de Duque de Caxias e Baixada
Fluminense – CEPEMHED, que procura manter viva a memória da Educação deste
município, não especificamente da Supervisão. Com essa parceria, pudemos juntos
entrevistar supervisores que atuaram no setor e contribuíram para a construção
da Educação Municipal. Percebemos que os supervisores sempre foram atuantes,
militantes das causas educacionais e que se essa parte da história não fosse
registrada, talvez perdêssemos um período importante da história da supervisão.
Outra parceria importante foi feita com
supervisoras aposentadas que fizeram a leitura do material para que dados
fossem confirmados, visto que não havia documentos escritos. Foi importante a
história oral, escolhida como técnica para coleta de dados, não sendo possível
de outra forma.
O estudo se tornou não só meu e da orientadora da pesquisa,
mas de todos que se interessaram pelo assunto e que, de alguma forma, atuaram
como supervisores e se contagiaram com este momento único, de contar a história
de um setor tão importante para a SME. Cabe destacar a entrevista com a
professora Ilza Luísa, que mesmo com a idade avançada, se interessou em contar
a história por ela vivida como profissional da Educação de Duque de Caxias.
História riquíssima, que merece ser aprofundada, quem sabe por outro
pesquisador ou pesquisadora. O interesse em auxiliar na coleta de dados da
professora Luciana Arêas também foi importante, pois, mantém contato com as
supervisoras aposentadas e promoveu um encontro para que o assunto fosse
tratado e os dados fossem confirmados. Realmente foi uma experiência
única, sem a atuação dessa professora talvez não tivesse conseguido a fala, a
opinião, a entrevista de tantas pessoas.
No
sentido de contribuir para uma Educação mais humanitária e de qualidade, a
pesquisa foi estruturada em quatro capítulos, em que traçamos um histórico da
Pedagogia, por ser o curso ligado diretamente à função supervisora; um
histórico da supervisão tanto em nível nacional, quanto estadual e municipal,
descrevendo a função supervisora municipal desde o seu início até as gestões
pesquisadas, entre os anos 2000 a 2016.
Não acaba aqui; este estudo é apenas um
início de muitos que podem e devem surgir daqui por diante. Mesmo antes da
defesa, duas pesquisadoras nos procuraram para que o material fosse utilizado,
e o centro de memórias também nos apontou que o estudo já está sendo utilizado
por outras pessoas, o que nos mostra que valeu a pena!
INTRODUÇÃO
Neste estudo o objeto é a Supervisão Educacional na
Rede Municipal de Duque de Caxias, a Gestão Pública e, consequentemente, a
Educação Pública. O tema justifica-se por tratar de um assunto que está sempre
em voga, pois Educação Pública está nas discussões e pesquisas sobre o
desenvolvimento educacional do país, em uma sociedade que exige de nós que
decisões sejam tomadas, em um espaço mínimo de tempo, e nas escolas não é
diferente. O cotidiano escolar, segundo Oliveira; Alves (2008, p.10) “não se
reduz àquilo que é observável e organizável formalmente”. É complexo, e para
compreendê-lo, é necessário, segundo as mesmas autoras, que: “estejamos
dispostos a ver além daquilo que os outros já viram e muito mais: que sejamos
capaz de mergulhar inteiramente em uma determinada realidade...”
(p.19). Exige, além de gestores dinâmicos e motivadores, uma equipe
que esteja motivada e com um olhar holístico sobre os problemas e os fazeres da
escola.
Em Educação, tudo é mais urgente, pois reflete
necessariamente no processo ensino aprendizagem, que é o cerne técnico da
escola, o qual é influenciado, dentre outros elementos, pelo tipo de trabalho
oferecido pela equipe escolar. Por entender que a Educação não se faz apenas em
sala de aula especificamente, além dos professores, a equipe diretiva, o
secretário escolar e seus auxiliares precisam estar motivados.
A Supervisão Educacional e sua influência na Rede Municipal
de Ensino de Duque de Caxias confronta-se diretamente com essa problemática,
sendo necessário investigar, pesquisar e oferecer alternativas de melhorias. O
tema da dissertação é “O MAPA DA SUPERVISÃO EDUCACIONAL EM DUQUE DE
CAXIAS: As transformações ocorridas na Secretaria Municipal de Educação de Duque de
Caxias/RJ, entre os anos de 2000 a 2016, secretaria esta situada à Rua Prefeito
José Carlos Lacerda, s/nº - 25 de Agosto – Duque de Caxias, Rio de Janeiro –
RJ/Brasil, especificamente na CSOE — Coordenadoria de Supervisão e Orientação
Educacional. Essa Coordenadoria faz o acompanhamento do trabalho desenvolvido
pelas escolas municipais de Duque de Caxias, que possui atualmente 178 unidades
escolares e aproximadamente 78.994 alunos.
A investigação foi motivada a partir do
trabalho realizado desde 1999 como Supervisora Administrativa na Rede Municipal
de Duque de Caxias. Após esses anos de atuação no setor, surgiu uma
interrogação em relação à influência do Supervisor no desempenho das escolas
municipais de Duque de Caxias. Portanto, foi levantada a questão central da
pesquisa: “O Supervisor Educacional exerce influência no desempenho das equipes
das escolas municipais”? Partindo dessa interrogação, foram formuladas as
seguintes questões norteadoras da pesquisa: Qual o papel
da Coordenadoria de Supervisão e Orientação Educacional da Secretaria
Municipal de Educação de Duque de Caxias-RJ? Quais os resultados
obtidos após as formações e as intervenções realizadas pela Supervisão Educacional
da Secretaria Municipal de Educação de Duque de Caxias – RJ, no período
pesquisado? A ação supervisora interfere no cotidiano escolar a ponto de
contribuir para um melhor desempenho?
Esta pesquisa possibilita contribuir para a
indicação de materiais bibliográficos, normativos e instrucionais para o setor
público. Como este é composto por seres humanos, que em sua maioria buscam
ascensão pessoal e profissional, para isso torna-se necessário um motivo que os
impulsionem a buscar novas práticas. Nesse sentido, entende-se que sem
objetivo, sem necessidade, o ser humano não se sente impulsionado a buscar
novos desafios. Os motivos que impulsionam o homem podem ter natureza
intrínseca, extrínseca ou transcendente, o que Maslow apud Pisandelli
(2003) identifica como necessidades, criando, assim, a “Hierarquia das
Necessidades”, a qual difere de uma pessoa para outra.
No caso do Supervisor Educacional não é diferente,
ele precisa de competências que o leve a conhecer melhor seus liderados, sua
cultura organizacional, conceituada por Nasser, segundo Lück como sendo:
o conjunto de valores, crenças e
tecnologias que mantêm unidos os mais diferentes membros, de todos os escalões
hierárquicos, perante as dificuldades, operações do cotidiano, metas e
objetivos, a motivação das equipes que acompanha, para que possa promover um
trabalho de qualidade. (2010, p.71)
Mas como esse Supervisor está inserido em um
contexto histórico, muitas vezes seu trabalho não depende somente de suas
ações; o poder público e o modelo de gestão adotado por ele é que direcionam
essa ou aquela ação, e o resultado na escola pode ou não ser positivo.
Em Duque de Caxias, como no Brasil de modo geral, o
modelo de gestão passou e passa por diversas fases e influências. Um desses
modelos é o modelo Patrimonialista, definido por Bergue como:
na perspectiva patrimonialista a
gestão pública pode ser definida a partir de traços característicos marcantes,
que traduzem ações sutis, capazes de refletir valores e crenças pessoais do
dirigente, quais sejam: a propriedade pública confundindo-se com a propriedade
privada do administrador; o aparelho administrativo do Estado como extensão do
poder do dirigente; a tendência ao nepotismo, alicerçada, em geral nos
seguintes valores: a) crença de que laços familiares constituem a mais plena
garantia de lealdade; b) oportunidade de distribuição de oportunidade
profissional ou riqueza para a família; c) garantia de maior probabilidade de
convivência com eventuais desvios; os cargos, especialmente os comissionados,
são considerados feudos passíveis de distribuição na forma de reconhecimento
pessoal ou moeda. (2011, p. 233)
Outro modelo que pode ser adotado pelo gestor
municipal é o Burocrático, que segundo o mesmo autor está associado
conceitualmente a partir do tipo ideal descrito por Weber e tem como atributos:
a eficiência, a profissionalização e os controles administrativos. Segundo
Katz; Kahn (1987, p.181, apud Bergue, 2011), a eficiência “é
principalmente um critério da vida interna da organização, interessando-se por
seus aspectos técnicos e econômicos”. Bergue, em relação à superação desse
paradigma destaca:
Os princípios da Administração
Pública arrolados no artigo 37 da Constituição Federal de 1988, especialmente o
da impessoalidade, explicam a exigência de objetividade e racionalidade dos
atos da autoridade, consistindo na positivação da noção de autoridade
burocrática, no sentido weberiano, no ordenamento jurídico brasileiro.
Portanto, o que poderia ser considerado, no panorama internacional, como
superado e sem novidade – a afirmação constitucional do paradigma burocrático –
constitui no quadro constitucional e no direito administrativo brasileiro um
marco importante”. (Bucci, 2002, p.108, apud Bergue, 2011).
Outro modelo seria o Gerencial, que busca
resultados, em menos tempo e com poucos recursos e é uma tendência atual no
serviço público, citado por Bergue:
Segundo a lógica gerencial, a
administração deve concentrar recursos na gestão com vistas nos resultados, ou
seja, o planejamento da ação, a organização dos recursos necessários, a
condução do processo (direção) e o controle devem privilegiar como parâmetro de
elaboração e avaliação o resultado das ações (2011, p. 237).
Nesse modelo, a delegação de tarefas é importante,
transferindo também o poder de decisão para outra pessoa, escolhida para ser
responsável por alguma tarefa ou trabalho. Diante disso, a comunicação na
organização torna-se prioridade para que os objetivos sejam alcançados e pode
ser definida, de acordo com o mesmo autor (2011, p. 529) como: “um processo de
transferência de dados, informações ou conhecimentos a partir de um ponto de
origem a um ponto de destino, seguido da devida compreensão”. A comunicação é
importante e por isso há um maior investimento quanto às novas tecnologias,
porque por meio destas, as informações serão veiculadas em menor tempo e para
mais pessoas.
Em suma,
Bergue afirma que:
de uma forma geral, o esforço
orientado para a institucionalização de um modelo gerencial na administração
pública brasileira encontra resistência nos fortes traços burocráticos
consolidados, que decorrem de um padrão formal de natureza histórica, ao qual é
associada uma carga de valores patrimonialistas advindos de uma herança
cultural. Assim, a forma de condução dos negócios do Estado, lato sensu,
de modo geral, está bastante distante do denominado paradigma gerencial. (2011,
p. 239)
Dentro desse panorama histórico, a ação supervisora
requer algumas competências e habilidades, e uma delas é saber trabalhar em
grupo e mediar situações difíceis, identificando o momento e a maneira correta
em intervir no fazer da escola e como desenvolver a equipe para o trabalho no
cotidiano escolar.
O
empoderamento,
definido por Blanchard (2011, apud Matos, 2017, p.
73) como “o processo de liberação de poder que existe nas pessoas – seu
conhecimento, sua experiência e sua motivação e direcionar esse poder à
concretização de resultados positivos para a organização”, é muito importante para o desenvolvimento da equipe. O saber
ouvir, a mediação de conflitos, a importância de cada um e seu papel no
atendimento oferecido pela instituição, a responsabilização, são pontos
fundamentais para que a qualidade do serviço melhore, sendo assim, este estudo
assumiu características de um estudo de caso na Secretaria Municipal de Educação,
especificamente na CSOE – Coordenadoria de Supervisão e Orientação Educacional,
que faz o acompanhamento dos trabalhos das Equipes Diretivas e dos funcionários
da secretaria escolar.
O objetivo geral da pesquisa foi analisar até que
ponto a função supervisora exerce influência no desempenho das equipes das
escolas municipais de Duque de Caxias – RJ. Os objetivos específicos
foram: descrever a função do Supervisor Educacional durante as últimas
gestões municipais de Duque de Caxias – RJ no período de 2000 a
2016; relacionar os resultados obtidos pelas equipes escolares, após as
formações e as intervenções adotadas pela Supervisão Educacional da Secretaria
Municipal de Educação de Duque de Caxias-RJ.
A escolha da temática se justifica devido à sua
relevância, tendo em vista que este estudo pretende apresentar os aspectos
significativos da função supervisora no município de Duque de
Caxias; busca apresentar contribuição científica acerca da referida
temática e, a partir desta análise, propor soluções para o problema. Logo,
a temática abordada poderá servir como referencial para futuras pesquisas, já
que apesar de ser um profissional imprescindível para o acompanhamento das
escolas de Duque de Caxias, não foi encontrado acervo sobre a história dessa
função no município e sua transformação no decorrer das gestões pesquisadas. Como o trabalho do Supervisor Educacional não é
estanque em relação aos outros serviços oferecidos pela Prefeitura de Duque de
Caxias, a política municipal implantada influencia na ação supervisora junto às
escolas.
No Brasil pesquisas estão voltadas para o assunto
“Supervisão”, e devido à necessidade de entendimento em relação ao conceito
Supervisão e suas transformações no país, mais especificamente no município de
Duque de Caxias, esta pesquisa pretende definir essa função, muitas vezes não
compreendida, de acordo com o contexto histórico. A função faz parte da gestão,
definida por Lück (2014, p.96) como “um processo pelo qual se mobiliza e
coordena talento humano, coletivamente organizado, de modo que as pessoas, em
equipe, possam promover resultados desejados”. Nesse sentido, tende a estar
voltada para as mudanças sociais e procura atender as equipes escolares de
acordo com suas necessidades, sendo importante o conhecimento das escolas em
que atua.
No decorrer da história da Supervisão, o Supervisor
atuou em diversos níveis e desempenhou diferentes funções. Atuou nos espaços
escolares e no órgão central das diversas secretarias de Educação. Na escola,
como diz Medina:
[...]oferece contribuição
específica e importante no processo de ensinar e aprender, que é: trabalhar com
o professor na identificação das necessidades, das satisfações, das perguntas,
das respostas possíveis e das inúmeras dúvidas que vão surgindo no fazer
diário, atuando em conjunto com o regente de classe. (1995, p.51)
No órgão
central, segundo Rangel (2007) traz consigo uma conotação mais abrangente, que
envolve os serviços das instâncias intermediárias e centrais do Sistema e da
política da Educação. A autora define essa função como Supervisão Educacional e
a atuação na escola como Supervisão Escolar. Esses termos são utilizados de
forma diferenciada de acordo com a Rede de atuação.
No Estado do Rio de Janeiro, instituiu-se a
Inspeção Escolar, tendo a função regulamentada em 2001 com a Portaria
E/COIE.E Normativa nº 03, que define como objetivo da Inspeção Escolar “ações
de caráter preventivo e sob a forma de orientação, visando evitar desvios que
possam comprometer a regularidade dos estudos dos alunos e a eficácia do
processo educacional” (site SEEDUC, 2016). Os chamados Professores Inspetores
Escolares estão incluídos no Plano de Cargos e Salários do Magistério do Estado
do Rio de Janeiro, inclusive a nomenclatura “Professor” foi mantida,
garantindo, assim, os mesmos direitos dos docentes.
O Município de Duque de Caxias seguiu o modelo do
estado do Rio de Janeiro. De 1963 a 1970, o Inspetor Escolar do estado era
responsável pelo acompanhamento das escolas municipais. O serviço de Supervisão
Escolar em Duque de Caxias foi criado em 1975, sendo responsável pelo ensino
regular e supletivo. Em 1979 foi oficializado, e são criadas também as
Supervisões de Caixa Escolar, Merenda Escolar e Bolsas de Estudos. Em 1983, a
Supervisão Educacional passou a ter caráter pedagógico, além de verificar
documentos escolares. Em 1999 houve o primeiro concurso para a Supervisão
Administrativa. A DSE – Divisão de Supervisão Educacional, atual
CSOE – Coordenadoria de Supervisão e Orientação educacional, é composta de duas
equipes: uma de Supervisoras Administrativas concursadas para esse fim e outra
de Supervisores Pedagógicos.
Em 2013 a ação supervisora sofreu mudanças, e
muitos profissionais passaram a atuar nas escolas, permanecendo um quantitativo
pequeno de Supervisores Pedagógicos, e não houve mudanças nas ações das
Supervisoras Administrativas. O acompanhamento pedagógico praticamente não
aconteceu, ficando sob a responsabilidade da CEF – Coordenadoria de Ensino
Fundamental. A CSOE se restringiu a atender a Portaria nº 32/GS-SME/DC/2014,
para assinatura de históricos escolares, nas escolas onde não havia o
profissional responsável pela assinatura dos documentos. Além disso, fazia
atendimentos ao público, atendia a algumas demandas relativas a conselho
tutelar e participava de comissões de acompanhamento.
Dentro do quadro apresentado, no referencial
teórico foram confrontados autores das áreas de Gestão Pública, Educação
Pública e Supervisão Educacional.
A pesquisa foi estruturada em quatro capítulos. O
primeiro composto pela contextualização do tema e os referenciais teóricos. O
segundo capítulo destina-se ao histórico da Supervisão Brasileira; o terceiro
capítulo destina-se ao histórico das gestões municipais entre os anos 2000 a
2016, e o quarto capítulo destina-se à metodologia, em que foi definido o
universo da pesquisa, análise, organização e apresentação dos dados
quantitativos e qualitativos, visto que se trata de um estudo de caso, com
entrevistas de questões semiestruturadas. O estudo de caso, segundo YIN (2011,
p. 4) “é um método qualitativo que consiste, geralmente, em uma forma de
aprofundar uma unidade individual”. Ainda segundo o autor, o estudo de caso
contribui para a compreensão dos fenômenos individuais, os processos
organizacionais e políticos da sociedade, bem como os motivos que levaram a
determinada decisão. É uma estratégia de pesquisa que compreende um método que
abrange tudo em abordagens específicas de coletas e análise de dados. O quarto
capítulo apresenta também as conclusões do estudo e as recomendações, além de contribuições
para estudos futuros.
MARCO
TEÓRICO
1. O MAPA
DA SUPERVISÃO EDUCACIONAL
Ao pensar sobre
a Supervisão Educacional, nos reportamos à educação primária no
Brasil e também às influências do PABAEE.[1] Esse programa teve influência
no modelo tecnicista nos anos 1960. Enfatizava as metodologias e as técnicas
como solução para os problemas educacionais, como: evasão e repetência (PAIVA;
PAIXÃO, 2013); mais tarde incluiu o currículo como um dos objetivos do programa
e o papel do Supervisor nesse currículo. Vale lembrar que esses problemas são
desafios até hoje.
As
atividades desenvolvidas pela Supervisão no Brasil tinham o PABAEE como
referência, e o trabalho desenvolvido era visto de forma positiva, em que,
segundo Silva Junior (1986, apud Paiva; Paixão, 2013, p. 38):
“[...] textos e documentos originários do PABAEE eram tidos para todos os
efeitos, como material de primeira ordem e fonte obrigatória de atualização e
aperfeiçoamento profissional”.
O
autor afirma que em alguns estados do Brasil, como São Paulo e Goiás, a
institucionalização da Supervisão Escolar adotou o modelo do PABAEE. Essa
afirmação foi contestada por Garcia (1988) em relação ao modelo de Minas
Gerais. Paiva e Paixão (2013, p.39) citam que a Supervisão em Minas Gerais
surgiu com as reformas de 1906, implantadas no governo João Pinheiro, que
introduziu a figura do Inspetor Técnico, atual Supervisor. Além disso, as
atividades da Supervisão no Sistema de Ensino realizaram-se com as reformas de Francisco
Campos ao final dos anos 1920. Para Garcia (1988), o PABAEE em Minas Gerais
assumiu outra função, a de redefinição dos currículos e dos espaços de atuação
do Supervisor nos órgãos centrais do Sistema de Ensino (PAIVA; PAIXÃO, 2013,
p.41). Para Silva Júnior, a questão central do PABAEE era o currículo. Nesse
quadro, o professor primário parece ser o foco do programa; no Brasil se
pretendia formar educadores, que serviriam como multiplicadores das novas
técnicas aprendidas nos EUA, portanto, nada melhor do que fazer isso nas
Escolas Normais.
O
Brasil enviou 14 professores para os EUA (13 deles foram imediatamente
incorporados ao programa) com o compromisso de implantar um Centro Piloto,
inicialmente em Belo Horizonte, com a seguinte formatação: Departamentos de
Linguagem, Aritmética, Ciências, Estudos Sociais, Currículo e Supervisão,
Pré-primário e Psicologia. Havia um serviço audiovisual e de classes de
demonstração na Escola Primária do Instituto de Educação (PAIVA; PAIXÃO, 2013,
p. 45). Havia no grupo quatro especialistas americanos que serviam de
conselheiros dos brasileiros na implantação do programa. A atuação findou-se em
1964. As autoras destacaram o texto de Long[2] (que funcionaria como
diretor do Instituto de Educação) sobre a preocupação do programa em trabalhar
com as pessoas que mantinham e exerciam lideranças, levando os Supervisores a
serem considerados agentes multiplicadores. Destacaram ainda as frentes de
trabalho dos Supervisores no programa: a prática pedagógica na Escola Primária
e os cursos oferecidos nas Escolas Normais iniciados em 1959 (p.49).
Pela
demanda educacional, em 1961 foi incluída a formação dos Supervisores, pois
Supervisores treinados poderiam treinar outras pessoas em serviço; mais tarde
esse treinamento foi estendido aos Orientadores e Administradores.
Tratava-se agora, também, de
treinar profissionais que ocupassem ou pudessem ocupar posições de liderança na
administração do ensino e aqueles responsáveis pelas atividades de supervisão
em escolas, em delegacias regionais de ensino ou em órgãos de planejamentos
públicos. Assim, o PABAEE ampliou sua estratégia de resposta aos problemas do
ensino primário. (PAIVA; PAIXÃO, 2013, p.52).
O
que aconteceu foi que o programa se adaptou às necessidades da educação
brasileira. Em Minas Gerais, por exemplo, os primeiros cursos realizados para
Supervisores aconteceram em 1960, quando 28 Inspetores foram formados. As
autoras citam que nesse curso preocupou-se em deslocar a função de Inspeção
para Supervisão e para elas as demandas cresceram porque não existiam em alguns
estados brasileiros programas e currículos com objetivos, conteúdos e
metodologias formulados, como existia no PABAEE e, devido a essa organização, o
programa servia como referencial. Segundo Medeiros e Rosa (1985), o MEC propôs
a criação de dois centros em cada estado, no Programa Emergencial (1962) e mais
tarde no Plano Nacional de Educação – PNE. Esses centros eram mantidos pela
União, assim como a formação dos Supervisores, que passavam a dar mais ênfase
nas metodologias e técnicas como solução dos problemas educacionais, deixando
de lado a discussão mais ampla sobre a Escola Primária (PAIVA; PAIXÃO, 2013,
p.55).
O
Município de Duque de Caxias enviou três professoras para a formação do PABAEE,
em Belo Horizonte, como podemos constatar na entrevista da professora Ilza
Luíza, que participou ativamente deste momento histórico da Supervisão.
Arroyo
(2000, p.38) acredita que “a visão tecnicista da história sempre foi
empobrecedora no campo da Educação Básica. Simplifica demais as análises de um
campo social e cultural tão complexo e termina por adiar a solução dos
problemas que pretende resolver reduzindo-os ao domínio de técnicas”. O curioso
para ele é que os grupos técnicos, nos anos 1980, que tinham o poder,
terminavam apelando para grupos como amigos da escola, comunidades da escola,
comunidades solidárias, de compromisso da sociedade difusa. O professor
primário diante dessa realidade era considerado incompetente e necessitava que
lhes fossem ensinadas metodologias e técnicas e assim alcançaria o sucesso.
Passemos então a traçar o caminho da Pedagogia
dentro do contexto brasileiro, bem como o histórico da Supervisão Educacional
tanto no Brasil, quanto no estado do Rio de Janeiro e consequentemente em Duque
de Caxias.
1.1
Caminhos da Pedagogia
A Pedagogia, como diz Libâneo (2000), existe desde
que houve a necessidade de cuidar de crianças e promovê-las no contexto social,
porém sua institucionalização ocorre por volta do século XV, com a Modernidade.
Segue citando Mialaret[3] (1991, p.6), que define “Pedagogo: mestre ao
qual se dá encargo de instruir e de educar um aluno, de
ensinar-lhe gramática e de vigiar suas ações”. Para Libâneo (2000),
o termo está associado ao saber, à instrução e à educação por meio do saber ou
à ideia de formação.
A Pedagogia e toda a base do seu
discurso teórico é fruto da modernidade, achando-se ligada a acontecimentos
cruciais como: Reforma, o Iluminismo, a Revolução Francesa, a Industrialização
e a ideia como natureza humana universal, a autonomia do sujeito, a
educabilidade humana, a emancipação humana pela razão. (LIBÂNEO, 2000,
p.154-155)
No
século XVII alguns filósofos deram contribuições à Pedagogia, como: Ratke,
Comênio e Locke. Consideravam que o conhecimento vinha da experiência e que,
portanto, era necessário um estudo sobre a natureza e o conhecimento das
coisas. Consideravam a natureza da criança e sua individualidade. Para Libâneo (2000),
não é casual que Comênio seja considerado o fundador da Pedagogia Moderna
(apesar da polêmica em afirmar ser ele moderno ou não), em que afirma que a “a
educação é a garantia da formação do homem para a humanidade e que a escola é
uma oficina de homens, onde absolutamente tudo seja ensinado a todos” (COMÊNIO,
1957, p.155 apud LIBÂNEO, 2000, p.155).
O
século XVIII é chamado o “Século da Pedagogia”, quando surgem alguns nomes da
Pedagogia Clássica, dentre eles: Rosseau[4] e Pestalozzi,[5] que
segundo, Ávila de Azevedo, no artigo sobre As Ideias Pedagógicas de Pestalozzi,
este “intervém na história da Pedagogia, e conseguiu audiência superior a
qualquer outro dos educadores contemporâneos por ter sabido definir e praticar
alguns dos princípios imutáveis do acto educativo”(AZEVEDO, 2006, p. 33) Para
Pestalozzi, a formação do caráter era mais importante do que a aquisição de
conhecimento. Ainda segundo o autor, são cinco os princípios na Teoria
Pedagógica de Pestalozzi: espontaneidade do acto educativo, ou seja, a educação
não deve ser imposta: o objeto do aprendizado é um movimento da consciência
individual; atribui ao termo intuição um significado próprio; a criança deve
fazer as coisas por si própria, formar as ideias mediante actos que executa
todos os dias; uma educação que ponha em exercício o cérebro, o coração, as
mãos, assim denominado por ele de equilíbrio e força; e finalmente, considera a
intervenção do educando na coletividade. Acredita na educação para melhorar a
sociedade” (AZEVEDO, 2006, p. 33). Nesse século são desenvolvidas a educação
pública estatal e a educação nacional. O século é representado pela formação
plena do homem e de uma educação integral.
No
século XIX inaugura-se a cientificidade da Pedagogia e, para Herbart, o saber
sobre a educação desvincula-se da Filosofia e torna-se saber científico.
Institui dois pilares para a Pedagogia: a ética (fins da educação) e a
Psicologia (os meios da educação). (LIBÂNEO, 2000, p.157).
Libâneo
cita que, no início do século XX Dewey faz críticas sobre Herbart, por
considerá-lo exagerado no papel atribuído às matérias de estudo para o
desenvolvimento mental e moral. Herbart acredita que a ideia de educação pela
instrução é a formação do espírito por meio da matéria apresentada do exterior.
Faz vínculo entre educação-sociedade, mesmo assim, Dewey reforça que ele não
deixa de preservar a herança iluminista.
No Brasil, o curso de Pedagogia[6] foi
instituído em 1939, no Governo de Getúlio Vargas, formando os denominados
Técnicos em Educação. Na mesma época outros cursos foram criados, os quais mais
tarde realizaram estudos e pesquisas voltados à educação. Nos anos 1960 o curso
de Pedagogia passa a formar bacharéis e licenciados, respaldado pelo Parecer
CFE nº 251/1962. De acordo com esse parecer o Pedagogo[7] passa a ser um
professor com curso superior.
O
currículo da Pedagogia era composto das seguintes disciplinas: 1º
ano: Complementos da Matemática, História da Filosofia,
Sociologia, Fundamentos Biológicos da Educação; 2º ano:
Estatística Educacional,
Fundamentos Sociológicos da Educação; 3º ano: Educação
Comparada, Filosofia da Educação. Psicologia Educacional (nos
três anos); História da Educação e Administração Escolar (nos dois últimos
anos). Eram formados bacharéis, e com mais um ano, os licenciados. Muitas
críticas foram feitas devido à não definição da área de atuação dos bacharéis,
que muitas vezes ocupavam as funções dos licenciados.
Em 1969, segundo Leme; Silva (2014,
p.17), pelo Parecer do CFE nº 252/1969 foram criadas as habilitações do curso
de Pedagogia, entre elas a de Supervisão Escolar. O curso de Pedagogia passa a
formar “especialistas”[8] em educação, como: Supervisor Escolar,
Orientador Educacional, Administrador Escolar e Inspetor Escolar. Não havia
mais diferenciação entre bacharéis e licenciados, passando dessa forma a serem
formados licenciados em Pedagogia. Santos (2012, p.134) considera que ao final
dos anos 1960, buscou-se mais uma vez ajustar a educação brasileira ao contexto
político-econômico da época por intermédio das reformas de ensino. E para
tanto, foram definidas a dinâmica da estrutura das Faculdades de Educação e a
regulamentação das habilitações em Educação, não só pelo parecer citado, mas
também por meio da Resolução Federal nº 02, de 12/05/1969. Esses documentos
legais, segundo o autor, fixaram o currículo mínimo, o tempo de duração do
curso de graduação em Pedagogia e estabeleceram disciplinas obrigatórias.
Em outras palavras, pode-se dizer
que o Parecer nº 252/69 e a Resolução nº 02/69, vieram regulamentar o Artigo 30
da Lei nº 5540/68, o qual dispõe sobre formação dos professores em nível
superior para o Ensino de 2º Grau, sobre as disciplinas gerais ou técnicas e
sobre o preparo dos “especialistas”, destinados ao trabalho de Planejamento,
Supervisão, Administração e Orientação, no âmbito das escolas e dos sistemas de
escolares. (SANTOS, 2012, p.135).
A
finalidade era preparar técnicos/especialistas em diferentes habilitações. A
carga horária do curso era de 2.200 horas distribuídas em no mínimo três e no
máximo sete anos letivos. Santos cita a análise de Silva (1985, p.
59-60) em relação ao parecer:
Entretanto, nas entrelinhas se
percebe a relação entre Planejamento e Supervisão com a coerência do modelo
real: dicotomia entre decisão e ação, necessidade de uma elite planejar e
controlar. Configura-se a Supervisão como função controladora e meramente
executora, já, nesse ponto, impregnada da ideologia do sistema que “é
necessária”, pois, conforme teor do texto: “já começávamos a ressentir-nos”.
Isto se refere às tendências que histórica, econômica e politicamente se
esboçavam: educação tecnicista adequada ao modelo social, político e econômico
vigente. (SANTOS, 2012, p. 137).
Podemos
observar que o trabalho dos especialistas se dava de forma fragmentada, pela
divisão de funções, além de ser uma função não só técnica, mas política,
servindo ao modelo imposto na época, de controlador.
O
estágio supervisionado, dentro da área escolhida, se tornou obrigatório para o
curso de Pedagogia; e para o registro de “especialista”, a comprovação em
docência era obrigatória. Entretanto, somente por meio do Parecer Federal nº
867/1972 os critérios foram definidos, e o estágio das disciplinas pedagógicas,
dentro da habilitação escolhida, passou a servir como experiência em docência.
Na década de 1970, segundo Leme; Silva (2014,
p.17 ), surgiram as Associações[9] de Supervisão Escolar, e o Supervisor
passa a ter várias denominações, como acontece até hoje, dependendo da rede em
que atua, por exemplo: no Estado do Rio de janeiro há Coordenação Pedagógica
que atua na escola com o objetivo de acompanhar o trabalho pedagógico junto aos
professores, e há a figura do Professor Inspetor Escolar no órgão central, que
faz o acompanhamento de todo o funcionamento da escola; em Duque de Caxias,
há o Orientador Pedagógico, que atua na escola, e o Supervisor Pedagógico e o
Supervisor Administrativo atuam no órgão central. O que vemos são várias
denominações com atuações semelhantes.
Em
1971 as faculdades de Educação passaram a oferecer formação aos Supervisores.
As demandas cresceram devido ao contexto político, econômico e social
brasileiro. O termo especialista era muito criticado e ainda o é, de acordo com
Oliveira (2007), as habilitações que separavam o “especialista” do docente eram
vistas como fragmentação e hierarquização do trabalho pedagógico (LEME; SILVA,
2014, p.18).
Segundo
as autoras, uma nova nomenclatura surgiu como: Coordenação Pedagógica, para
substituir o Orientador Educacional e o Supervisor Educacional com a
justificativa da necessidade de integração dessas funções. Ao final de 1970,
segundo Pimenta (1996, p.09) emerge o movimento de redefinição dos cursos de
Pedagogia. A identidade do curso e do profissional foi questionada, apesar de o
curso de Pedagogia ter sido regulamentado, em 11 de agosto de 1971 com a LDBEN
nº 5692/1971, que fixou as Diretrizes e Bases para o Ensino de 1º e 2º graus,
efetivando a função do Supervisor para atuar nas escolas:
Art. 33. A formação de
Administradores, Planejadores, Orientadores, Inspetores, Supervisores e demais
especialistas de educação será feita em curso superior de graduação, com
duração plena ou curta, ou de pós-graduação.
Art. 34. A admissão de professores e especialistas no ensino oficial de 1º e 2º graus far-se-á por concurso público de provas e títulos, obedecidas para inscrição as exigências de formação constantes desta Lei. (BRASIL, 1971).
Art. 34. A admissão de professores e especialistas no ensino oficial de 1º e 2º graus far-se-á por concurso público de provas e títulos, obedecidas para inscrição as exigências de formação constantes desta Lei. (BRASIL, 1971).
Nota-se a distinção entre as funções, as quais só
poderiam ser exercidas por profissionais através de concurso público e que os
Estatutos definiriam as características funcionais. Santos (2012, p.144)
ressalta que a LDBEN nº 5692/71 foi planejada na cúpula do Sistema, sem qualquer
consulta prévia a professores e/ou agentes educacionais, fazendo com que a
Supervisão Educacional se tornasse assistencialista e controladora. Cita Braga
(1997) quando afirma que a Supervisão tinha múltiplas finalidades para
assegurar a qualidade do processo ensino-aprendizagem e aprimorar métodos e
técnicas de ensino, bem como catalisar e fomentar mudanças no contexto
educacional.
A
função da Supervisão Educacional, tanto no órgão central quanto na escola,
estava atrelada ao modelo social imposto e este muitas vezes não estava em
consonância com as necessidades das escolas. Outro fato era que o professor era
visto hierarquicamente como dependente do Supervisor, devendo ter uma atuação
passiva, tendo de aceitar todas as regras determinadas pela Supervisão. Na
verdade, segundo Medeiros; Rosa (1987, apud Santos, 2012,
p.147) a função supervisora era contraditória, pois na escola o Supervisor
decidia e os professores executavam, e no órgão central, o Supervisor recebia
as ordens e as executava nas escolas. Essa situação só contribuía
para a polêmica em relação à identidade do curso de Pedagogia que continuava a
ser criticada.
A
década de 1980, segundo Santos (2012, p. 153), foi considerada como “década
perdida”, o que pode estar relacionado ao fato de ter sido caracterizada pela
transição da Ditadura Militar para a Nova República, pela mediação entre o
antigo e o novo. Caracteriza a década do discurso reprodutivista, em que se
denunciava, mas não havia mudanças concretas. Cita Martins (1997):
A década de 1980 iniciou com
muitos problemas: profunda crise econômica; altíssimos índices de inflação e
desemprego; recessão mundial; diversos planos econômicos (Cruzado I, Cruzado
II, Plano Bresser, Plano Verão etc.); aumento da dívida externa; desvalorização
dos salários; corrupção; desmandos; fortalecimento do capitalismo dependente;
queda dos níveis de investimento; escassez do capital estrangeiro, redução
acentuada das importações; entre outros (SANTOS, 2012, p. 154).
Diante
dessa realidade, consequências ocorreram como: desigualdades sociais, miséria,
aumento da mortalidade infantil, insegurança, refletindo na escola, aumentando
os índices de repetência e evasão.
Mas
nem tudo foi perdido, como disse Martins (1997), “[...]nesta época ocorreram
grandes lutas pela democracia na maioria dos países latino-americanos” (SANTOS,
2012, p. 156). Alguns programas foram implantados voltados para a população
mais pobre, como foi o caso dos CIEPs.[10] Além de programas educacionais,
que tentavam inovar, o povo brasileiro passou por outras mudanças, como
abertura política, organização de sindicatos, associações, grêmio estudantil —
tudo isso refletiu na escola, tendo mais abertura para discussões relevantes.
Alguns renomados educadores contribuíram para que a educação tivesse avanços,
como foi o caso de Darcy Ribeiro e Paulo Freire, citado por Cambi:
os adultos foram envolvidos em
discussões comuns, partindo de problemas locais e detendo-se em
esclarecer conceitos e palavras, de maneira a fazer emergir uma
tomada de consciência dos problema que superasse tanto o
individualismo quanto o localismo. (1999, p.592)
Surge a
Pedagogia Crítica dos Conteúdos, do Prof. Drº Demerval Saviani, que combatia o
tecnicismo e o caráter reprodutor da escola, sem críticas. Foram criados também
nessa década: o Movimento Nacional de Formação do Educador; as Instituições de
Pesquisa, como a ANDE – Associação Nacional de Educação, a ANPED – Associação
Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação; CEDES – Centro de Estudos e
Desenvolvimento Educação & Sociedade.
Muitas
discussões foram suscitadas, dentre elas a função política do Supervisor e o
compromisso que este deveria ter com a classe popular. Para Santos (2012), a
Pedagogia Histórico-crítica[11] de Saviani influenciou a Pedagogia, mas
não forneceu soluções para os problemas, apesar de que muitos educadores
puderam refletir sobre sua ação, assumindo uma atitude crítico-reflexiva sobre
sua prática pedagógica. Sugiram, portanto, alguns movimentos como: Comitê
Nacional Pró-Formação do Educador, na CBE – I Conferência Brasileira de
Educação e Comitês Estaduais de Educação, que procuraram dar continuidade à
discussão iniciada.
Em
face de toda essa discussão, a função supervisora sofreu muitas críticas, tendo
sido considerada culpada pelo fracasso da escola, por não estar trabalhando ao
lado dos docentes e por fazer o trabalho de reprodução do modelo da época. Foi
um ano de muita crítica e pouca solução, talvez por esse motivo a década de
1980 tenha sido considerada e denominada “Década Perdida”.
Na
década de 1990 há uma ênfase nas discussões e surge a necessidade do trabalho
coletivo, sendo importante a integração da equipe no trabalho escolar. A
vontade coletiva deve sobrepor à vontade individual. Santos considera que esse,
dentre outros motivos, fez com que a década de 1990 fosse considerada a “Década
da Metamorfose esperada”. Nesse contexto, lembrou que “ser competente é também
ter um verdadeiro compromisso com os aspectos social, político, econômico e
cultural da sociedade” (SANTOS, 2012, p.167).
Ainda
de acordo com o autor, a função supervisora foi motivada a refletir sobre sua
ação, redimensionando a práxis na escola em relação aos conceitos, fundamentos
e processos educacionais, e para Rangel (2002, p. 74) “ressignificar a
Supervisão Educacional tem dois sentidos: o de reconceituá-la e o de
revalorizar a sua formação e ação, reconhecendo aspectos gerais, básicos e sua
especificidade”. Para Freire (2016, p. 102) “a educação se refaz constantemente
na práxis. Para ser tem de estar sendo”.
Assim,
é necessário que a Supervisão tenha claro sua especificidade, que é definida em
1996, com a LDBEN nº 9394/96, no art. 64, a qual esclarece a respeito da
formação dos profissionais da educação. Em 2003 o CNE define as diretrizes para
o curso de Pedagogia. Em 2005, o Parecer CNE/CP nº 05, de 13/12/2005, que
define as Diretrizes Curriculares Nacionais para o curso de Pedagogia, extingue
as habilitações do curso de Pedagogia. O Pedagogo passa a ter habilitação
integrada e indissociável da docência, sendo, portanto, habilitado também para
docência em Educação Infantil, Anos Iniciais, Disciplinas Pedagógicas do Curso
Médio, Normal e Profissional, na área de Serviços e Apoio Escolar.
Em
2006 o CNE faz um reexame do Parecer CNE/CP nº 05/2005, que trata das
Diretrizes Curriculares para o curso de Pedagogia, através do Parecer CNE/CP nº
03/2006, que passa a vigorar da seguinte forma:
Art. 14. A Licenciatura em
Pedagogia nos termos do Parecer CNE/CP nº 5/2005 e desta Resolução assegura a
formação de profissionais da educação prevista no art. 64, em conformidade com
o inciso VIII do art. 3º da Lei nº 9.394/96. § 1º Esta formação profissional
também poderá ser realizada em cursos de pós-graduação, especialmente
estruturados para este fim e abertos a todos os licenciados. § 2º Os cursos de
pós-graduação indicados no § 1º deste artigo poderão ser complementarmente
disciplinados pelos respectivos sistemas de ensino, nos termos do Parágrafo
único do art. 67 da Lei nº 9.394/96.
A
pós-graduação em Pedagogia é aberta a todos os licenciados. A experiência
docente, de acordo com o artigo 67 da LDBEN nº 9394/96, é pré-requisito para o
exercício profissional. Em 2007 o Senado aprova o PL nº 132, de 2005, que em
novembro de 2007 foi revogado pela Casa Civil, com a seguinte justificativa:
O Conselho Nacional de Educação
definiu, especificamente que a carreira do Magistério é una, englobando tanto
os profissionais que exerçam a docência como as demais atividades de
magistério. A Resolução nº 03 de 08 de outubro de 1997, que “fixa diretrizes
para os novos planos de carreira e de remuneração para o magistério dos
estados, do Distrito Federal e dos Municípios” não separa nenhuma das funções
do magistério, considerando-as na sua unidade para definição da carreira.
(SILVA, 2014, p. 21).
Podemos
observar que o histórico do curso de Pedagogia é marcado por interpretações
ambíguas e por discussões quanto ao seu objeto de estudo e quanto à formação
necessária, o que não deixou de acontecer com a LDBEN atual, que tem como
objetivo a formação docente. Portanto, a função do Pedagogo continua a estar
sempre em discussões a respeito de sua funcionalidade e finalidade. E aí surge
uma indagação: o curso de Pedagogia pode ser considerado como Ciências da
Educação?
1.1.1 O
curso de Pedagogia como Ciências da Educação
Pesquisadores
portugueses da Universidade de Lisboa, como Falcão e Estrela, discutiram o tema
Ciências da Educação, e Estrela[12] propõe que se denomine Pedagogia a
Ciência da Educação (1980). Para o autor a maior dificuldade:
Reside precisamente na
caracterização das situações em que temos de exercer nossa ação, ou seja, a
partir das quais haverá que se construir o projeto de intervenção. O professor
“olha” a classe, mas não a “vê”. Não dispõe de instrumentos nem de metodologias
de observação que lhe permitam detectar fenômenos de ordem pedagógica (ESTRELA,
1980:126, apud PIMENTA, 1998, p.44).
É
necessário, portanto, que haja clareza quanto ao campo específico de atuação da
Pedagogia, visto que integra conhecimentos de outras áreas do saber, como:
Filosofia, Sociologia, Psicologia, Antropologia, dentre outras. Mas a diferença
é que, especificamente, a Pedagogia se preocupa com o ato pedagógico, o qual
envolve aluno, professor, contexto escolar, e outras áreas não se ocupam por
não ser seu objeto de estudo. São variáveis importantes para o desenvolvimento
do ato pedagógico e, que se relacionam com outros saberes; talvez por isso a
interdisciplinaridade seja inerente ao trabalho pedagógico. Para Fazenda (1979,
p. 8, apud Gadotti, p.2), a interdisciplinaridade é mais que
método, é uma atitude, é, sim, uma postura, alicerçada em atitude de buscas,
envolvimento, compromisso, reciprocidade diante do conhecimento.
É
claro que há críticas em relação à afirmação de se considerar a Pedagogia a
Ciência da Educação. Pimenta (1998) considera a Pedagogia a Ciência da prática,
que outros autores concordam por entenderem que não pode ser vista apenas como
uma ciência descritiva, explicativa e interpretativa. Para Dias de Carvalho,
citado por Pimenta,
“[...]será também uma ciência
normativa em que a componente utópica tem papel central. É que essa ciência
lida com um objeto inconcluído, não podendo, por isso, bastar-se o conhecimento
de um objeto já construído. (PIMENTA, 1998, p.93)
Mazzotti
sustenta a Pedagogia da prática porque:
O processo de
desenvolvimento das ciências pode, então, ser avaliado como uma permanente
descentração do sujeito face ao objeto; ou seja, como um percurso pelo qual o
sujeito deixa sua centralidade para reconhecer que suas explicações são
combinações das relações que mantém com o objeto. Dessa maneira, o objeto é
compreendido como o “constructo”, um “protótipo”, um “modelo”, um “simulacro”
do “real”, e este “real” jamais seria atingido em sua integridade. A teoria
seria, então, a exposição do objeto e das relações que o sujeito do conhecimento
estabelece com o objeto [...] (MAZZOTTI, 1994, p.6, apud PIMENTA,
1998, p.52).
Afirma
ainda que:
Nesse sentido seria possível
compreender a Pedagogia como uma ciência do fazer educativo, mas, como tal, não
se confundiria com o próprio fazer, que permanece como atividade do educador
(MAZZOTTI,1994, p. 6, apud PIMENTA, 1998, p.52).
Fica
claro que os pesquisadores que sustentam tal afirmação o fazem por acreditarem
que a Pedagogia da prática não se fecha com uma tecnologia, mas que há
constantemente uma reflexão sistemática sobre a Educação, e várias variáveis
são consideradas, como: o contexto histórico, tanto do educador quanto do
aluno, a práxis[13] do educador e de que forma ela contribui para o
processo de humanização dos homens. Como Pimenta (1998, p. 55) afirma “a
Pedagogia não muda por si a práxis. Ela é instrumento para a ação. São homens,
os educadores, que agem”.
A
reflexão sobre Pedagogia como Ciência da Educação passa então por dois
momentos, o primeiro, quando foram criadas as primeiras Cátedras
Universitárias, e o momento posterior da Pedagogia Experimental (NÓVOA, 1998).
O grande consenso, segundo o autor, é de que a Pedagogia pode ser ensinada e,
portanto, há uma Ciência da Educação.
O
que não se pode negar é que há um diálogo transdisciplinar com outros saberes e
que teóricos de outras áreas deram grandes contribuições para as Ciências da
Educação, por exemplo, o psicólogo Jean Piaget, o sociólogo Pierre Bourdieu e o
historiador Philipe Ariès. É importante ressaltar que as pesquisas realizadas
por teóricos de outras áreas se deram nos seus campos disciplinares de origem,
não buscando, como diz Nóvoa (1998, p. 84), uma nova referência identitária no
âmbito das Ciências da Educação.
Observamos
que a função supervisora tem um foco diferente, sendo necessária a reflexão
sobre o termo.
2. SUPERVISÃO
Nos últimos tempos, nota-se que
tem havido mudanças na Educação, e muitas delas ainda estão por vir, como é o
caso da mudança no Ensino Médio, por exemplo. Algumas geram polêmicas na
sociedade, talvez pela forma como as mudanças são implantadas, causando
conflitos entre as pessoas interessadas, como estudantes e Governo. Para
Dourado:
[...]a
educação é entendida como processo amplo de socialização da cultura,
historicamente produzida pelo homem, e a escola, como lócus privilegiado de
produção e apropriação do saber, cujas políticas, gestão e processos se
organizam, coletivamente ou não, em prol dos objetivos de formação, sendo assim,
políticas educacionais efetivamente implicam o envolvimento e comprometimento
de diferentes atores, incluindo gestores e professores, vinculados aos
diferentes sistemas de ensino. (2007, p. 923-924)
Infelizmente, isso parece não ter
acontecido. Tais acontecimentos não diminuem a importância da Supervisão, pelo
contrário, impulsionam as Redes Públicas a repensar a função supervisora. As
tendências de gestão vão surgindo, as questões vão aparecendo, e a ação
supervisora contribui para que as demandas sejam atendidas e os conflitos sejam
solucionados. Giancaterino, em seu artigo considera que:
O
supervisor escolar representa um profissional importante para o bom desempenho
da educação escolar, o grupo escolar, o qual deve opinar expor seu modo de
pensar e procurar direcionar o trabalho pedagógico para que se efetive a
qualidade na educação. Na atualidade o supervisor se direciona para uma ação
mais científica e mais humanística no processo educativo, reconhecendo,
apoiando, assistindo, sugerindo, participando e inovando os paradigmas, pois
tem sua “especialidade” nucleada na conjugação dos elementos do currículo:
pessoas e processos. Desse modo, caracteriza-se pelo que congrega, reúne,
articula, enfim, soma e não divide. (2014, s/p.)
O
Supervisor na década de 1990 passa então de controlador para aquele que
acompanha o fazer escolar. Esse profissional deixa de ser aquele que controla
os resultados para ser mais um em fazer que aconteça o processo
ensino-aprendizagem, de forma que o aprendente[14] seja atendido nas suas
potencialidades e seja educado para atuar na sociedade como cidadão que é,
tendo sua potencialidade respeitada.
É
necessário, portanto, refletir sobre o termo Supervisão.
2.1
O termo Supervisão
Segundo Marinho (1980, p.
38 apud Santos, 2012, p.33), etimologicamente, a palavra
Supervisão é constituída de dois vocábulos latinos: Super (sobre, excesso ou
grau superior) e Visão (ação ou efeito de ver, ato da potência visual). É
possível dizer então que, dentro desse conceito, Supervisor é aquele que
consegue ver além, de cima, tem uma visão ampla, tem um olhar diferenciado, por
ter conhecimento e experiência diferente dos outros.
Para
Rangel (2002), Supervisão significar “ver sobre”. Com o passar dos anos, as
ações da Supervisão foram mudando, incluindo, segundo a autora, expressões
como: “Supervisão Educacional, Supervisão Escolar, Supervisão Pedagógica,
Orientação Pedagógica, Coordenação Pedagógica”, dentre outras (RANGEL, 2002,
p.75). A Supervisão é, portanto, uma função que existe em vários níveis: no
âmbito escolar e no âmbito central, em que o Supervisor Educacional atua como
elo entre a Secretaria e a Escola. Tem a função de acompanhar a escola desde a
gestão até a prática em sala de aula. Alarcão diz que
é função
do supervisor o desenvolvimento qualitativo da organização escolar, destacando
algumas ideias-força: o desenvolvimento institucional acontece na interação
ativa da instituição com o meio envolvente; a instituição é constituída de
pessoas, profissionais, também elas em desenvolvimento pessoal e profissional;
as instituições organizadas estruturam-se em subsistemas ecologicamente
articulados; o desenvolvimento do ser humano, individual e coletivo, é a pedra
de toque para o desenvolvimento organizacional; a liderança estratégica,
baseada numa visão partilhada da escola, num pensamento sistêmico e no diálogo,
é de importância capital; a resolução cooperativa dos problemas é fator de
aprendizagem e de coesão organizacional; a linguagem, como expressão do
pensamento crítico e fator de conscientização, aumenta o nível de empenho
(2013, p.47).
É claro que nem todos os profissionais da escola se
sentem à vontade com a presença do Supervisor Educacional, o considerando
muitas vezes como “de fora”, mas isso depende da experiência que cada um teve
com este ou aquele profissional. A visão de cada um depende da experiência
anterior com a ação supervisora. Outros consideram o Supervisor como parceiro,
aquele que vai estar junto no momento do planejamento e durante o processo, até
o momento da avaliação. Experiências desagradáveis são difíceis de serem
esquecidas pelos profissionais, mas as experiências exitosas impulsionam outros
a caminharem juntos com a escola por entenderem que pertencem à mesma Rede e fazem
parte da mesma equipe, e o sucesso ou insucesso da escola será o sucesso ou
insucesso de toda a Rede.
A escola é uma organização, e o sucesso de qualquer
organização[15] é, em parte, de acordo com Sergiovanni; Start (1978,
p.09), determinado pelo bem-estar, pela competência e pela motivação do aspecto
humano da escola. E o Supervisor Educacional, que tem uma função diferenciada
dos demais profissionais da Secretaria, por ter de alcançar os objetivos
através de outras pessoas, se torna, dessa forma, imprescindível pelo seu papel
de Supervisor-Líder. Apesar de ter na função uma parte administrativa, o
Supervisor não trabalha só com situações e ideias, mas com pessoas que pensam,
que têm suas crenças, seus valores, suas motivações e que irão de encontro aos
objetivos da Supervisão em nível central.
Algumas habilidades e competências são importantes
para que o Supervisor-Líder trabalhe por meio de pessoas para atingir os
objetivos da escola. Na administração tradicional “as pessoas eram vistas como
acessórios dos administradores, enquanto estes buscavam os objetivos da
escola”. (SERGIOVANNI; START, 1978, p.12). Esse modelo, segundo os autores, não
é eficiente para o trabalho com o ser humano. Quando há resultados eles duram
pouco tempo, frustrando o administrador e os demais e, consequentemente, a
sociedade.
Com o cenário atual, não cabe mais esse tipo de
administração, portanto, é importante pensar em uma administração democrática,
em que todos os envolvidos no processo ensino-aprendizagem possam ser ouvidos e
possam participar das decisões tomadas de forma que a construção do fazer
escolar seja coletivo. Nesse processo, o Supervisor tem papel fundamental, como
diz Freire (1996, p. 120-121) é preciso que haja autonomia, e essa “vai se
constituindo na experiência de várias, inúmeras decisões, que vão sendo tomadas
[...] uma pedagogia da autonomia tem de estar centrada em experiências
estimuladoras da decisão e da responsabilidade, vale dizer, em experiências
respeitosas da liberdade”.
2.2 O
Papel do Supervisor Educacional
No contexto brasileiro a função supervisora surgiu
nos anos 1970 com a finalidade de controle (SILVA JR., 1998, p.48 apud SILVA
JR.; RANGEL, 2013, p.11). O objetivo era alcançar a eficiência e eficácia
defendidas na teoria taylorista. O Supervisor era considerado o profissional
que garantiria as políticas decididas no órgão central. Seu papel era o de
verificar se as políticas educacionais decididas pelo governo eram efetivamente
implantadas nas escolas. Verificava toda a parte documental e os resultados
alcançados.
Com
o processo histórico de autonomia sofrido pela escola e pelos profissionais que
ali trabalhavam, não cabia mais o papel do Supervisor como controlador. O
trabalho realizado hoje nas escolas é um trabalho coletivo, em que cada vez
mais os sujeitos envolvidos no processo ensino e aprendizagem têm mais voz, e o
Supervisor passa então a fazer parte dessa equipe, a ser parceiro da escola e
passa a construir junto com todos os outros que ali estão a proposta pedagógica
que represente a identidade da escola.
Para
Alarcão (2013, p. 12), a Supervisão passa de escolar para pedagógica e tem a
função de assistir ao professor, no planejamento, no acompanhamento, na
coordenação, no controle, na avaliação e na atualização do desenvolvimento do
processo ensino-aprendizagem.
Para
a autora, a Supervisão Pedagógica dirige-se ao ensino e aprendizagem, e seu
objeto é a qualidade do ensino. Apesar de a palavra qualidade ser subjetiva e
depender do grupo onde se atua, Alarcão ressalta que:
Tem dependido fundamentalmente de
si e do sujeito de formação em que participa a orientação a imprimir à sua
atuação, podendo esta assumir tendências de reprodução ou de inovação,
perspectivas tecnicistas ou emancipatórias, consoante a filosofia defendida
(2013, p.16).
A realidade da sociedade fez com que o Supervisor
ocupasse outros papéis, tornando sua atuação mais ampla, dentro de uma escola
que é uma organização aberta e complexa e, que a cada ano mais papéis passa a
desempenhar devido às mudanças ocorridas no cenário político-social de nosso
país.
Diante desse cenário o Supervisor passa a ocupar
outras funções, que Alarcão (2013, p.35) define como o objeto da Supervisão “o
desenvolvimento qualitativo da organização escolar e dos que nela realizam seu
trabalho de estudar, ensinar ou apoiar a função educativa por meio de
aprendizagens individuais e coletivas, incluindo a formação dos novos agentes”.
A tarefa não tem sido fácil para aqueles que se
dedicam a essa função, mas ao mesmo tempo isso faz com que o Supervisor não
permaneça em sua zona de conforto,[16] há um privilégio em contribuir com
o desenvolvimento de uma organização aberta, que é a escola, que está sempre em
desenvolvimento, que interage com o ambiente que a rodeia e estimula a criar
espaços de aprendizagens. Senge (1994, p.14) criou o conceito de organização
aprendente, que define como “organização que está continuamente expandindo sua
capacidade de criar o futuro”. (ALARCÃO, 2013, p.36)
Continuando com Senge (1994, apud Alarcão,
2013, p. 37 - 40), o autor considera que há cinco componentes básicos numa
organização aprendente: domínio pessoal, modelos mentais, visão partilhada,
aprendizagem em grupo e pensamento sistêmico.
1- Domínio pessoal — saber o que se
quer alcançar de acordo com os objetivos traçados.
2- Modelos mentais — capacidade de refletir e
aprofundar ideias.
3- Visão partilhada — construção feita no coletivo.
4- Aprendizagem em
grupo —
capacidade de aprender no grupo, evitando que os talentos individuais
sobreponham ao coletivo.
5- Pensamento
sistêmico —
capacidade de ter visão de conjunto, de compreender as relações.
Corroborando com o autor, o diálogo é essencial
para que uma organização aprendente se desenvolva. É preciso mudar a forma de
pensar, de interagir, e essa mudança deve ser pessoal. Se não conseguirmos
mudar a nós mesmos, a nossa maneira de pensar, de agir, nossos comportamentos,
não mudaremos a organização.
Nesse contexto escolar, Alarcão afirma que a função
do Supervisor consiste em fazer leituras dos desafios, apoiar as pessoas no
processo de aprendizagem. Afirma ainda que a função supervisora exige uma
capacidade de observação antecipada para detectar desafios emergentes, de
conceptualização de intervenção estratégia, de comunicação interpessoal e de
persistência de avaliação monitorizada de processos e resultados.
Com base nas ideias de Alarcão, é possível pensar
no papel do Supervisor nas escolas como um profissional que constantemente
reflete sobre a prática e as teorias que embasam sua ação. Boas (2006, p.64)
diz que “a prática da supervisão exige, da parte do Supervisor, uma constante
avaliação crítica de seu próprio desempenho e um esforço continuado de
aperfeiçoamento como técnico, mas especialmente como pessoa”. É necessário,
portanto, que o Supervisor tenha um novo olhar para as escolas, e isso nos
remete à formação. Ela contempla os novos fazeres, os novos desafios
encontrados como Supervisor? Nessa reflexão Alarcão (2013, p.51) faz
uma síntese das características fundamentais da Supervisão numa escola
reflexiva, que para a autora é: a escola que interage entre as partes e o todo
institucional, entre estratégias planejadas e estratégias emergentes, entre
instituições e meio envolvente. Escola que dialoga com os vários atores e interage
com o pensamento e a ação. Escola que sabe ler os acontecimentos.
Quadro 1
- Síntese das características fundamentais da Supervisão numa escola reflexiva
Dimensões
|
Escola reflexiva
|
A. Saberes profissionais
A1. Abrangência
A2. Natureza
|
Escola
|
B. Formação profissional
B1. Abordam metodológica
B2. Atores
|
Saber em novas configurações.
Análise dos problemas e procura de soluções.
Professores e Supervisor.
|
C. Avaliação profissional
C1. Finalidades
C2. Modalidades
C3. Responsáveis
|
Desenvolvimento profissional
Formativa
Supervisor e Professores
|
D. Papel da escola no processo de formação
|
Escola reflexiva como organização aprendente.
|
E. Referenciais teóricos
|
Schön, Senge, Mintzberg e Bronfenbrenner.
|
Fonte:
Rangel (2013, p.51).
No município de Duque de Caxias o Supervisor atua
no âmbito central, como elo entre as escolas e a SME, fazendo acompanhamento da
parte pedagógica e administrativa. O Supervisor Pedagógico, corroborando com os
autores citados, deve trabalhar especificamente com o ensino e a aprendizagem,
fazendo articulação entre os elementos desse processo: “professores, alunos,
objetivos da escola, os conteúdos trabalhados, os métodos utilizados, a
avaliação, a recuperação e o contexto escolar”. (RANGEL, 2013, p.58). O
acompanhamento do cotidiano escolar é importante, bem como a realização de
formações para os profissionais da escola e assessoramento da Equipe Técnico
Pedagógica nos desafios encontrados, dentro do limite da ação supervisora.
A
Supervisão Administrativa, que também faz parte da CSOE, atualmente faz
acompanhamento do trabalho administrativo, realizando formações e assessorias
para gestores, equipe técnico-pedagógica, secretários escolares e auxiliares de
secretaria, a fim de que o trabalho administrativo possa servir de suporte para
o trabalho pedagógico, garantindo a regularidade de vida escolar dos alunos.
A
função supervisora definida por Rangel (2013) como “visão sobre” faz com que o
supervisor administrativo tenha mais responsabilidade no trabalho escolar,
tendo consciência de que a parte humana seja levada em consideração. E para
isso, são necessárias algumas competências e habilidades, evitando que o
trabalho administrativo seja um entrave no trabalho pedagógico. Além da
competência específica exigida no concurso público,[17] realizado para
esse fim, é necessário que o Supervisor tenha um bom relacionamento
interpessoal, tenha a visão do todo, do contexto atual no qual a escola está
inserida, ser objetivo sem que a subjetividade seja desconsiderada, estar
aberto às novidades, às novas tecnologias e ter a visão de partilhar
informações e conhecimentos. É preciso humildade, como diz Freire (1996, p.
137) “a humildade exprime uma das raras certezas de que estou certo: a de que
ninguém é superior a ninguém[...]”.
Percebemos
que a atuação da Supervisão Educacional na Rede Municipal de Duque de Caxias é
diferente de outras Redes, pois é composta de Supervisores Pedagógicos,
(Orientadores Pedagógicos e Orientadores Educacionais que atuam na função),
Supervisores Administrativos e Psicólogos — todos atuando de forma integrada
visando o melhor desempenho da unidade escolar.
É
imprescindível que a coordenadoria tenha clareza quanto às funções específicas
de cada um, sem que esses profissionais se tornem “ilhas” em suas atuações,
sendo fundamental a definição da abordagem a ser praticada nas escolas, pelos
Supervisores.
2.3 Abordagens da Supervisão
Sobre a ação supervisora
Alarcão (2013, p.
18-20) fez uma análise e sistematizou de forma a esclarecer suas ideias. Para ela há seis abordagens supervisivas diferentes:
artesanal, comportamentalista, clínica, reflexiva, ecológica e dialógica.
- Abordagem Artesanal, para a autora,
consiste em colocar o aprendiz professor junto do mestre professor, o prático
experiente, aquele que sabe como fazer e quer transmitir sua arte ao novato, que
o toma como modelo.
- Abordagem
Comportamentalista – aquele que pode assumir uma natureza mais mecanicista ou
mais racionalista.
- Abordagem Clínica — toma
a sala de aula como espaço clínico no qual se observa, se diagnostica e se
experimenta e considera o Supervisor como o colega, o colaborador, aquele que orienta, apoiando,
questionando e disponibilizando-se para ajudar outro colega.
- Abordagem Reflexiva — é
alicerçada na metodologia formativa, na reflexão como forma e desenvolve um
conhecimento profissional contextualizado e sistematizado numa permanente
dinâmica interativa, entre a ação e o pensamento.
- Abordagem Ecológica — toma-se em consideração as dinâmicas sociais e, sobretudo, a dinâmica do
processo sinergético da interação entre o sujeito e o meio que o envolve.
- Abordagem Dialógica — valoriza
o papel da linguagem no diálogo comunicativo, na construção da cultura
profissional e no respeito pela alteralidade assumida na atenção a conceder à
voz do outro na consideração de Supervisores e Professores
como parceiros na comunidade profissional.
Não cabe
aqui definir se esta ou aquela abordagem é a melhor, mas apenas refletir sobre
a ação supervisora no âmbito escolar, pois as abordagens provêm de diferentes
concepções relacionadas a várias questões educativas, que Alarcão assim
enumerou:
Relação entre teoria e prática, investigação e ação, investigação e
formação, noção de conhecimento como saber construído ou a construir, formação
como transmissão de saberes ou construção pessoal de saberes, caracterização
das dimensões do conhecimento profissional, definições de conteúdos a priori ou
derivados das necessidades de formações dos professores em ação... (2013, p. 16-17)
Continuando,
enumerou ainda:
Aplicação do saber numa perspectiva de racionalidade técnica ou
capitalização do saber experiencial numa perspectiva de racionalidade práxica,
papéis do professor e do formador de professores, noções de educação e
formação de professores, valorização da autoformação ou da formação em
colaboração, assunção da escola como centro de formação ou de mera estação de
serviço à formação, noção de escola como instituição executora de políticas
exógenas ou como organização aprendente com projeto próprio. (2013, p. 16-17)
Cabe
ao poder público a reflexão sobre a escola que se quer e a escola que se tem e, mediante
a constatação da realidade, é que está inserida a ação
supervisora, pois esta não se dá de forma isolada; faz parte de um contexto
histórico, em que vários fatores são considerados. O desafio do Supervisor
está em ter clareza desse contexto histórico no qual a escola está
inserida, contribuindo para a qualidade do ensino e da aprendizagem, de forma
mais abrangente, não se resumindo apenas na sala de aula, mas em toda a escola,
de forma que ela seja reconhecida como lugar de oportunidades de aprendizagens para
todos.
2.4 O
desafio da Supervisão Educacional
Os
profissionais da Educação em sua maioria trabalham muito. São horas de
dedicação a planejamentos, atividades, para que o aluno possa receber o melhor.
Mesmo assim, a educação continua num patamar ruim em relação a outros
países.[18] Por que nossas crianças não conseguem ser alfabetizadas em
três anos, como é proposto no Ciclo de Alfabetização?[19] Por que o Ensino
Fundamental não corresponde aos anseios da população, que é de receber uma
Educação de qualidade? Como se faz Educação de qualidade?
A
criança não pode ser culpada pelo fracasso da escola, tampouco o professor. Há
vários elementos que influenciam a qualidade da Educação. Talvez aí o
Supervisor tenha participação efetiva no momento de promover reflexões sobre a
situação da educação brasileira. Como o Supervisor poderia atuar? Ronca;
Gonçalves (2006, p.30) afirmam que: “a prática do Supervisor se dá numa
sociedade de classes, que apresenta sérias contradições tanto no próprio
Sistema Educacional como na forma de se encarar a Educação”. Outros autores
falam sobre as verbas da Educação, que são diminuídas, a desvalorização do
profissional da Educação e o incentivo à Educação privada. Esses fatores podem
contribuir para que o país não alcance uma Educação que reflita os anseios da
sociedade. Por outro lado, eles nos levam a pensar sobre o órgão central, de
onde saem as decisões sobre a Educação. Nesse espaço há ainda a visão de
controle, mesmo com todas as mudanças ocorridas. Apesar de maior acesso à
educação nos últimos tempos, a qualidade foi deixada de lado. Ter acesso à
escola não significa ter uma educação de qualidade. Nunca se viram tantas
crianças na escola, mas “Permanência” é diferente de
“Qualidade”.[20] Balzan afirma que a escola tem falhado estrondosamente,
deixando de satisfazer às suas expectativas [...]. (RONCA; GONÇALVES, 2006,
p.31).
Os
professores, por sua vez, trabalham com salários defasados, que os leva a
participar de movimentos da categoria em prol de salários justos. Atualmente,
em Duque de Caxias e municípios próximos, a luta é para o recebimento dos
salários, a que fazem jus, após meses trabalhados. A situação está caótica,
pois, antes, a luta era por melhores salários, hoje, pelos salários, mesmo que
defasados. O professor passou a lutar pelo suprimento de necessidades básicas,
como comer, beber, vestir-se, e isso certamente influencia a educação oferecida
pela escola.
O
ambiente de trabalho é outra luta constante da categoria de profissionais da
educação. As escolas sem estruturas, sem espaços adequados para que a educação
seja oferecida com qualidade, fazem com que o profissional se sinta
desvalorizado. Scheibe (2010) ressalta em seu artigo que “ao lado das
estratégias políticas consistentes, coerentes e contínuas de formação inicial e
continuada dos professores, precisam ser melhoradas as suas condições de
trabalho, de carreira e de remuneração”. E nessa mesma realidade está o
Supervisor Educacional, que faz o acompanhamento de escolas e é representante
da SME, que vai encontrar na escola uma realidade que o levará a refletir sobre
sua atuação.
É
claro que a participação do Supervisor Educacional não pode acontecer de
maneira isolada, e sim no coletivo, levando reflexões à escola sobre as
práticas ali existentes e as teorias que as embasam. O trabalho é tão dinâmico
que muitas vezes o ativismo se torna presente, e o processo ensino-aprendizagem
pode ser colocado em segundo plano, mesmo que inconscientemente. Se o
profissional não estiver atento, a rotina burocrática o domina, pois são tantos
documentos a preencher, relatórios a entregar que, se a prática pedagógica não
estiver no planejamento, será esquecida.
Para entrar na práxis e
consequentemente superar o ativismo (...) é indispensável que o supervisor
perceba a relação que existe e o contexto social, político e econômico no qual
a escola está inserida. Para tanto, é necessário não só que o supervisor esteja
convencido de que o mundo não termina no portão da escola, mas que também ele
esteja realmente informado do que ocorre na sociedade brasileira e procure
perceber de que forma a sua prática é influenciada por este contexto e por
outro lado o que é possível fazer para alterar este contexto. (RONCA;
GONÇALVES, 2006, p.32).
Não
podemos esquecer de que a formação recebida pode influenciar também na ação
supervisora, suas experiências, suas crenças, seus valores. Para Dourado:
a problematização de formação e
profissionalização docentes coloca-se como questão interligada à gestão
educacional e, nesse sentido, deve considerar os diferentes fatores que
interferem na atuação dos profissionais da educação, bem como possibilitar o
acesso a processos formativos que descurem de uma base sólida de formação, não
se reduzindo à disseminação de metodologias e estratégias de aprendizagem
(2007, p. 924).
Para ele,
rever a formação pedagógica requer a articulação entre políticas educacionais e
as concepções de formação enquanto processos de construção coletiva.
O
Supervisor trabalha, de modo geral, com a classe popular; classe esta que
encontramos nas escolas públicas em geral e que precisa de um olhar
diferenciado por parte dos profissionais que ali atuam. Há um mito de que todos
podem conseguir alcançar a educação, mas quais foram as oportunidades? De que
forma a educação está sendo apresentada à classe popular? Esse mito passa por
uma memória coletiva[21] da classe dominante. Considerar o
acesso à escola igualando-o à educação de qualidade é um erro. É preciso
refletir sobre a escola que temos e a escola que queremos e a quem essa escola
está servindo, ou corre-se o risco de ela reproduzir o que a classe dominante
quer.
Enfim,
o Supervisor tem o desafio de ser um parceiro da escola, levando a equipe
técnico-pedagógica a refletir sobre o contexto escolar — que é diferente em
cada escola, mesmo que pareçam iguais - sua cultura[22] ou culturas, seu
cotidiano, sua práxis. Juntamente com a escola, encontrar caminhos para que a
educação oferecida seja a melhor, mesmo diante da triste realidade da
desvalorização dos profissionais da Educação em nosso país. O
desafio é mais difícil porque neste momento os professores estão sofridos, após
lutas, paralisações, greves, o que influencia diretamente em sua vida familiar
e, por conseguinte na escola. Para Ronca; Gonçalves (2006, p. 35), “é
necessário que o supervisor reveja os vínculos implícitos e toda prática
educativa”, pois em vez de atuar como Supervisor controlador, deve atuar como
parceiro da escola.
2.5
Supervisão Educacional e o exercício da Democracia
Para
Morin (1965), citado por Cardoso (2006, p.73) “se a política se acha em questão
é porque toda questão passa a ser política”. A autora acredita que a ação
supervisora é política, mesmo que alguns não a considerem como tal, pois, na
medida em que precisa reagir em relação a uma atitude tomada, essa reação é
política, porque envolve uma ação, refletida ou não. Para ela, quando se fala
que não existe prática sem teoria que a embase, não existe teoria sem
política.
Para
Morin
[...] a democracia não pode
conviver com a intimidação e a covardia, com pequenos terrores, os grandes
tabus e os silêncios constrangidos da alma; com a irresponsabilidade ou a
bravata, a traição e a conjuração; com as verdades dogmáticas e as meias
verdades; a ambivalência e o oportunismo, com o maniqueísmo radical ou com o
radical esvaziamento semântico das palavras usadas não para comunicar, mas para
enganar, iludir, dopar [...] (1965, apud Cardoso, 2006,
p.75-76)
Para
Cardoso (2006, p.76), a democracia envolve muito mais do que liberdade
retórica, envolve igualdade a todos, de acesso aos bens criados pela
civilização moderna. O acesso à boa escola, em todos os níveis, à criação
cultural, sem minimizar o popular, à criação científica, o acesso ao trabalho
digno, acesso à segurança e a garantia de sobrevivência da cultura passada,
possibilidade de prosseguimento da cultura em devir.
Diante
disso, o Supervisor, ao chegar na escola, precisa, antes de tudo, conhecer: o
contexto escolar, que segundo Marcondes; Freund; Leite (2016, p. 1030): “[...]
é único em cada escola, mesmo que, em princípio pareçam similares” e por isso
precisa ser entendido e conhecido; e o cotidiano escolar, importante também,
como considera Ferraço (2008, p. 103), “[...] um espaço/tempo de
produções/enredamentos de saberes, imaginações, táticas, criações, memórias,
projetos, artimanhas, representações e significados”. O Supervisor precisa
estar consciente de seu dever democrático, de seu dever com a classe popular,
para que tenha condições de refletir junto com a escola sobre a sociedade, a
escola e o papel de cada um para que a sociedade seja mais igualitária. Se não
consegue fazer essa reflexão o Supervisor passa a atuar apenas como um
burocrático, um técnico; apesar de que para Cardoso é preciso entender a
burocracia, em seu sentido múltiplo: como tipo ideal, dentro do contexto de seu
idealizador, como forma de garantir maior eficiência às organizações modernas;
como práxis, intensificando mais ou menos suas vantagens e desvantagens, de
acordo com o contexto em que se inserem. Para Weber, o modelo
burocrático é um tipo de poder, que pode ser exercido de forma tradicional,
carismática ou legal.
Para Weber mais que uma forma de
organização, a burocracia é um modo de agir e de pensar que permeia toda a vida
social, que implica em uma visão racional e científica do mundo, rejeitadas a
religião e a metafísica, que só não cai no positivismo, porque o próprio Weber
suscita uma espécie de dialética evolutiva entre a liderança carismática e
burocrática, a primeira carregando as inovações e a segunda conduzindo à
rotinização: criatividade e espontaneísmo versus racionalismo
e impessoalismo. (CARDOSO, 2006, p.78).
Mesmo
sendo a burocracia ligada a regulamentos, os burocráticos podem manter uma
relação saudável entre os outros envolvidos no trabalho, preservando a
racionalidade, mas valorizando a pessoa, que produz, mas que não faz isso
desvinculada dos sentimentos, das crenças, dos valores, que fazem dela o ser
humano único. Mas surge uma indagação: como construir um ambiente criativo
tendo que manter a racionalidade, a divisão de tarefas? Talvez seja esse o
exercício de criatividade que o Supervisor-líder precise fazer diariamente, se
comprometendo com a vontade de construir coletivamente um ambiente onde o ser
humano seja considerado primordial e a burocracia seja posta como instrumento
para que a organização possa manter a racionalidade.
É
importante não esquecer que atrás de qualquer tarefa existe uma pessoa, que
pensa, que sente, que contribui para um serviço de qualidade, sendo oferecido a
outra pessoa, que também sente, pensa, que tem suas crenças e valores e que
deve ser ouvida, para que o serviço atenda da melhor forma, tanto para aquele
que recebe, como para aquele que faz. Como diz Freire (1996, p. 67): “a
vigilância do meu bom senso tem uma importância enorme na avaliação que, a todo
instante, devo fazer de minha prática”.
A
Educação tem esse papel de humanizar o homem, e nas tarefas burocráticas
inerentes à função supervisora isso não pode deixar de existir. O cumprimento
de algumas tarefas necessárias é importante para a organização, mas desde que
todos os envolvidos tenham vozes, possam contribuir e assim manter um
sentimento de pertencimento, tanto daquele espaço quanto do trabalho que vai
desempenhar.
Pensar
que um pode planejar para outro executar é de certa forma não contribuir para o
crescimento de todos os envolvidos no processo. A educação precisa ser capaz de
transformar o homem, de fazê-lo pensar e contribuir para sua
autorrealização. E essa função começa bem antes da sala de aula, ela
é mais ampla. Por acreditar que educar é mais do que estar em uma sala de aula,
acredita-se que todos da escola estejam em construção, portanto, aprendendo
constantemente, e isso torna a relação entre os atores da escola complexa, mas
intrigante e especial, e o Supervisor está inserido nesse contexto.
Esse
exercício de construção do ambiente de trabalho na escola perpassa pela formação
de cada um. Nem todos tiveram a mesma formação e estão aptos a cumprir as
tarefas apresentadas no dia a dia da escola, mesmo porque cada formação se deu
em épocas diferentes, contextos diferentes, espaços
diferentes. Diante desse cenário, se mostra necessária a formação em
serviço. Promover discussões, conversas, assessorias, que servirão de
embasamento para o trabalho das equipes nas escolas é um caminho que pode
enriquecer a experiência escolar. No caso de Duque de Caxias, as Supervisoras
Administrativas promovem as “Jornadas Administrativas”, das quais tanto a
equipe diretiva quanto os funcionários administrativos participam.
Numa
sociedade moderna e tão dinâmica a divisão de tarefas é inevitável. E para que
uma organização funcione, mesmo nos ambientes democráticos, essa divisão de
tarefas é importante, e é saudável ter dois tipos de Supervisão, pelo menos em
Duque de Caxias, que funcionam de forma integrada. Não há como pensar num
Supervisor que dê conta de todo o trabalho escolar, e diante da necessidade de
acompanhamento do ato educativo, o Supervisor Pedagógico procura se envolver
mais com o pedagógico, deixando a tarefa burocrática para a Supervisão
Administrativa.
Hoje
a realidade da função supervisora é outra — antes era somente burocrática
(Inspetor), agora funciona em parceria com a escola, não estando somente
preocupada com os resultados, mas também como se dá o processo, os elementos
que influenciam o fazer escolar, e todo o contexto é levado em consideração. Por
essa razão, Cardoso considera que:
a função supervisora só deveria
ser exercida por pessoas emocionalmente maduras, pois esperam-se, além de
competências técnicas exigidas pela função, habilidades emocionais, que
refletirão na sua “capacidade” de liderança e comunicação, da percepção que
tenha de si e do outro, do autoconceito, enfim, do entendimento às suas
necessidades individuais e do clima emocional do grupo. (2006, p. 94).
Isso
exige que o Supervisor saiba se relacionar bem tanto com o gestor escolar,
quanto com os professores, funcionários, alunos e outros.
Corroborando
com a autora, a estratégia democrática contribuiria, assim, para uma ação e
práxis supervisora libertadora e não castradora das potencialidades individuais
em todos os níveis de atuação que, para além do tecnicismo enseja a crítica e a
criação, a reflexão e a ação nos limites e no alcance de cada um (CARDOSO,
2006, p.95). Marcondes; Freund; Leite (2016, p.1029) lembram em seu artigo
Stephen J. Ball, que “rejeita a noção de que as políticas são implementadas.
Elas são sujeitas a processos de tradução e de interpretação no contexto da
prática”. (BALL; MAGUIRE; BRAUN; 2016, p.12)
Nesse
sentido, o Supervisor não implementa simplesmente as ações planejadas, mas reflete
sobre elas, as interpreta e promove a reflexão junto à ETP, ao Professor, sem
deixar de lado o cumprimento das tarefas burocráticas necessárias. Assim, de
acordo com documentos colhidos, conversas entre diversos profissionais da Rede
Municipal de Duque de Caxias envolvidos no trabalho da Supervisão Municipal,
entrevistas realizadas com Supervisores, foi feito um histórico da Gestão da
Supervisão Educacional por períodos.
3.
HISTÓRICO DA SUPERVISÃO
>>>>>>>>>>>>>>> SERÁ OBJETO DE OUTRA POSTAGEM <<<<<<<<<<<<<<<<<<
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