domingo, 17 de julho de 2011

CNJ - Cartilha anti Bullying

Cartilha Anti-Bullying  
Conselho Nacional de Justiça - CNJ


è Original da Cartilha disponível em

Obs. Texto destinado a estudos e pesquisas

1. O QUE É BULLYING?
O bullying é um termo ainda pouco conhecido do grande público. De origem inglesa e  sem tradução ainda no Brasil, é utilizado para qualificar comportamentos agressivos no  âmbito escolar, praticados tanto por meninos quanto por meninas. Os atos de violência  (física ou não) ocorrem de forma intencional e repetitiva contra um ou mais alunos que se  encontram impossibilitados de fazer frente às agressões sofridas. Tais comportamentos não apresentam motivações específicas ou justificáveis. Em última instância, significa dizer que,  de forma “natural”, os mais fortes utilizam os mais frágeis como meros objetos de diversão, prazer e poder, com o intuito de maltratar, intimidar, humilhar e amedrontar suas vítimas.

2. QUAIS SÃO AS FORMAS DE BULLYING?  NORMALMENTE, EXISTEM MAIS MENINOS OU MENINAS QUE COMETEM BULLYING?
As formas de bullying são:

Verbal (insultar, ofender, falar mal, colocar apelidos pejorativos, “zoar”)
Física e material (bater, empurrar, beliscar, roubar, furtar ou destruir pertences da vítima)
Psicológica e moral (humilhar, excluir, discriminar, chantagear, intimidar, difamar)
Sexual (abusar, violentar, assediar, insinuar)
Virtual ou Ciberbullying (bullying realizado por meio de ferramentas tecnológicas:
celulares, filmadoras, internet etc.)

Estudos revelam um pequeno predomínio dos meninos sobre as meninas. No entanto, por  serem mais agressivos e utilizarem a força física, as atitudes dos meninos são mais visíveis.
Já as meninas costumam praticar bullying mais na base de intrigas, fofocas e isolamento das colegas. Podem, com isso, passar despercebidas, tanto na escola quanto no ambiente  doméstico.

3. EXISTE ALGUMA FORMA DE BULLYING QUE SEJA MAIS MALÉFICA? 
CIBERBULLYING É PIOR DO QUE O BULLYING TRADICIONAL?
Uma das formas mais agressivas de bullying, que ganha cada vez mais espaços sem  fronteiras é o ciberbullying ou bullying virtual. Os ataques ocorrem por meio de ferramentas tecnológicas como celulares, filmadoras, máquinas fotográficas, internet e seus recursos (emails,  sites de relacionamentos, vídeos). Além de a propagação das difamações ser praticamente instantânea o efeito multiplicador do sofrimento das vítimas é imensurável. O ciberbullying  extrapola, em muito, os muros das escolas e expõe a vítima ao escárnio público. Os  praticantes desse modo de perversidade também se valem do anonimato e, sem nenhum constrangimento, atingem a vítima da forma mais vil possível. Traumas e consequências  advindos do bullying virtual são dramáticos.

4. QUAL O CRITÉRIO ADOTADO PELOS AGRESSORES PARA A ESCOLHA DA VÍTIMA?
Os bullies (agressores) escolhem os alunos que estão em franca desigualdade de poder,  seja por situação socioeconômica, situação de idade, de porte físico ou até porque numericamente estão desfavoráveis. Além disso, as vítimas, de forma geral, já apresentam  algo que destoa do grupo (são tímidas, introspectivas, nerds, muito magras; são de credo,  raça ou orientação sexual diferente etc.). Este fato por si só já as torna pessoas com baixa  autoestima e, portanto, são mais vulneráveis aos ofensores. Não há justificativas plausíveis  para a escolha, mas certamente os alvos são aqueles que não conseguem fazer frente às  agressões sofridas.

5. QUAIS AS PRINCIPAIS RAZÕES QUE LEVAM OS JOVENS A SEREM OS
AGRESSORES?
É muito importante que os responsáveis pelos processos educacionais identifiquem com  qual tipo de agressor estão lidando, uma vez que existem motivações diferenciadas:

1. Muitos se comportam assim por uma nítida falta de limites em seus processos educacionais  no contexto familiar.

2. Outros carecem de um modelo de educação que seja capaz de associar a autorrealização  com atitudes socialmente produtivas e solidárias. Tais agressores procuram  nas ações egoístas e maldosas um meio de adquirir poder e status, e reproduzem os modelos domésticos na sociedade.

3. Existem ainda aqueles que vivenciam dificuldades momentâneas, como a separação  traumática dos pais, ausência de recursos financeiros, doenças na família etc. A violência praticada por esses jovens é um fato novo em seu modo de agir e, portanto,  circunstancial.

4. E, por fim, nos deparamos com a minoria dos opressores, porém a mais perversa. Trata-se de crianças ou adolescentes que apresentam a transgressão como base estrutural  de suas personalidades. 

Falta-lhes o sentimento essencial para o exercício do  altruísmo: a empatia.

6. QUAIS SÃO OS PRINCIPAIS PROBLEMAS QUE UMA VÍTIMA DE BULLYING PODE  ENFRENTAR NA ESCOLA E AO LONGO DA VIDA?
As consequências são as mais variadas possíveis e dependem muito de cada indivíduo,  da sua estrutura, de vivências, de predisposição genética, da forma e da intensidade das agressões. No entanto, todas as vítimas, sem exceção, sofrem com os ataques de bullying  (em maior ou menor proporção). Muitas levarão marcas profundas provenientes das agressões para a vida adulta, e necessitarão de apoio psiquiátrico e/ou psicológico para a superação  do problema.

Os problemas mais comuns são: desinteresse pela escola; problemas psicossomáticos;  problemas comportamentais e psíquicos como transtorno do pânico, depressão, anorexia e bulimia, fobia escolar, fobia social, ansiedade generalizada, entre outros. O bullying também  pode agravar problemas preexistentes, devido ao tempo prolongado de estresse a que a vítima é submetida. Em casos mais graves, podem-se observar quadros de esquizofrenia,  homicídio e suicídio.

7. COMO PERCEBER QUANDO UMA CRIANÇA OU ADOLESCENTE ESTÁ SOFRENDO  BULLYING? QUAL O COMPORTAMENTO DESSES JOVENS?
As informações sobre o comportamento das vítimas devem incluir os diversos ambientes  que elas frequentam. Nos casos de bullying é fundamental que os pais e os profissionais da  escola atentem especialmente para os seguintes sinais:
Na Escola:
No recreio encontram-se isoladas do grupo, ou perto de alguns adultos que possam  protegê-las; na sala de aula apresentam postura retraída, faltas frequentes às aulas, mostram-  se comumente tristes, deprimidas ou aflitas; nos jogos ou atividades em grupo sempre  são as últimas a serem escolhidas ou são excluídas; aos poucos vão se desinteressando  das atividades e tarefas escolares; e em casos mais dramáticos apresentam hematomas,  arranhões, cortes, roupas danificadas ou rasgadas.

Em Casa:
Frequentemente se queixam de dores de cabeça, enjoo, dor de estômago, tonturas, vômitos,  perda de apetite, insônia. Todos esses sintomas tendem a ser mais intensos no período  que antecede o horário de as vítimas entrarem na escola. Mudanças frequentes e intensas  de estado de humor, com explosões repentinas de irritação ou raiva. Geralmente elas não  têm amigos ou, quando têm são bem poucos; existe uma escassez de telefonemas, e-mails,  torpedos, convites para festas, passeios ou viagens com o grupo escolar. Passam a gastar  mais dinheiro do que o habitual na cantina ou com a compra de objetos diversos com o  intuito de presentear os outros. Apresentam diversas desculpas (inclusive doenças físicas)  para faltar às aulas.

8. E O CONTRÁRIO? O QUE SE PODE NOTAR NO COMPORTAMENTO DE UM  PRATICANTE DE BULLYING?
Na escola os bullies (agressores) fazem brincadeiras de mau gosto, zoações, colocam  apelidos pejorativos, difamam, ameaçam, constrangem e menosprezam alguns alunos. Furtam ou roubam dinheiro, lanches e pertences de outros estudantes. Costumam ser populares  na Na escola e estão sempre enturmados. Divertem-se à custa do sofrimento alheio. 
No ambiente doméstico, mantêm atitudes desafiadoras e agressivas em relação aos familiares.

São arrogantes no agir,no falar e no vestir, demonstrando superioridade. Manipulam  pessoas para se safar das confusões em que se envolveram. Costumam voltar da escola  com objetos ou dinheiro que não possuíam. Muitos agressores mentem, de forma convincente,  e negam as reclamações da escola, dos irmãos ou dos empregados domésticos.

9. O FENÔMENO BULLYING COMEÇA EM CASA?
Muitas vezes o fenômeno começa em casa. Entretanto, para que os filhos possam ser  mais empáticos e possam agir com respeito ao próximo, é necessário primeiro a revisão do  que ocorre dentro de casa. Os pais, muitas vezes, não questionam suas próprias condutas  e valores, eximindo-se da responsabilidade de educadores. O exemplo dentro de casa é  fundamental. O ensinamento de ética, solidariedade e altruísmo inicia ainda no berço e se  estende para o âmbito escolar, onde as crianças e adolescentes passarão grande parte do  seu tempo.

10. O BULLYING EXISTE MAIS NAS ESCOLAS PÚBLICAS OU NAS PARTICULARES?
O bullying existe em todas as escolas, o grande diferencial entre elas é a postura que  cada uma tomará frente aos casos de bullying. Por incrível que pareça os estudos apontam  para uma postura mais efetiva contra o bullying entre as escolas públicas, que já contam  com uma orientação mais padronizada perante os casos (acionamento dos Conselhos Tutelares,  Delegacias da Criança e do Adolescente etc.).

11. O ALUNO VÍTIMA DE BULLYING NORMALMENTE CONTA AOS PAIS E  PROFESSORES O QUE ESTÁ ACONTECENDO?
As vítimas de bullying se tornam reféns do jogo do poder instituído pelos agressores.
Raramente elas pedem ajuda às autoridades escolares ou aos pais. Agem assim, dominadas  pela falsa crença de que essa postura é capaz de evitar possíveis retaliações dos  agressores e por acreditarem que, ao sofrerem sozinhos e calados, pouparão seus pais da  decepção de ter um filho fraco, covarde e não popular na escola.

12. QUAL É O PAPEL DA ESCOLA PARA EVITAR O BULLYING ESCOLAR?
A escola é corresponsável nos casos de bullying, pois é lá onde os comportamentos  agressivos e transgressores se evidenciam ou se agravam na maioria das vezes. A direção  da escola (como autoridade máxima da instituição) deve acionar os pais, os Conselhos  Tutelares, os órgãos de proteção à criança e ao adolescente etc. Caso não o faça poderá  ser responsabilizada por omissão. Em situações que envolvam atos infracionais (ou ilícitos)  a escola também tem o dever de fazer a ocorrência policial. Dessa forma, os fatos podem  ser devidamente apurados pelas autoridades competentes e os culpados responsabilizados.
Tais procedimentos evitam a impunidade e inibem o crescimento da violência e da criminalidade  infantojuvenil.

13. COMO É O BULLYING NAS ESCOLAS BRASILEIRAS, EM COMPARAÇÃO A  OUTRAS, DOS ESTADOS UNIDOS OU DA EUROPA? ALGUMA CARACTERÍSTICA ESPECÍFICA?
Em linhas gerais o bullying é um fenômeno universal e democrático, pois acontece em  todas as partes do mundo onde existem relações humanas e onde a vida escolar faz parte  do cotidiano dos jovens. Alguns países, no entanto, apresentam características peculiares  na manifestação desse fenômeno: nos EUA, o bullying tende a apresentar-se de forma  mais grave com casos de homicídios coletivos, e isso se deve à infeliz facilidade que os  jovens americanos possuem de terem acesso as armas de fogo. Nos países da Europa, o  bullying tende a se manifestar na forma de segregação social a até da xenofobia. 

No Brasil, observam-se manifestações semelhantes às dos demais países, mas com peculiaridades  locais: o uso de violência com armas brancas ainda é maior que a exercida com armas  de fogo, uma vez que o acesso a elas ainda é restrito a ambientes sociais dominados  pelo narcotráfico. A violência na forma de descriminação e segregação aparece mais em  escolas particulares de alto poder aquisitivo, onde os descendentes nordestinos, ainda que  economicamente favorecidos, costumam sofrer discriminação em função de seus hábitos,  sotaques ou expressões idiomáticas típicas. Por esses aspectos é necessário sempre analisar,  de maneira individualizada, todos os comportamentos de bullying, pois as suas formas  diversas podem sinalizar com mais precisão as possíveis ações para a redução dessas  variadas expressões da violência entre estudantes.

14. QUAL A INFLUÊNCIA DA SOCIEDADE ATUAL NESTE TIPO DE  COMPORTAMENTO?
O individualismo, cultura dos tempos modernos, propiciou essa prática, em que o ter é  muito mais valorizado que o ser, com distorções absurdas de valores éticos. Vive-se em  tempos velozes, com grandes mudanças em todas as esferas sociais. Nesse contexto, a  educação tanto no lar quanto na escola se tornou rapidamente ultrapassada, confusa, sem  parâmetros ou limites. Os pais passaram a ser permissivos em excesso e os filhos cada vez  mais exigentes, egocêntricos. As crianças tendem a se comportar em sociedade de acordo  com os modelos domésticos. Muitos deles não se preocupam com as regras sociais, não  refletem sobre a necessidade delas no convívio coletivo e, nem sequer se preocupam com  as consequências dos seus atos transgressores. 

Cabe à sociedade como um todo transmitir  às novas gerações valores educacionais mais éticos e responsáveis. Afinal, são estes jovens  que estão delineando o que a sociedade será daqui em diante. Auxiliá-los e conduzi-los na  construção de uma sociedade mais justa e menos violenta, é obrigação de todos.

15. COMO OS PAIS E PROFESSORES PODEM AJUDAR AS VÍTIMAS DE BULLYING A  SUPERAR O SOFRIMENTO?
A identificação precoce do bullying pelos responsáveis (pais e professores) é de suma  importância. As crianças normalmente não relatam o sofrimento vivenciado na escola, por  medo de represálias e por vergonha. A observação dos pais sobre o comportamento dos  filhos é fundamental, bem como o diálogo franco entre eles. Os pais não devem hesitar em  buscar ajuda de profissionais da área de saúde mental, para que seus filhos possam superar  traumas e transtornos psíquicos.

Outro aspecto de valor inestimável é a percepção do talento inato desses jovens. Os adultos  devem sempre estimulá-los e procurar métodos eficazes para que essas habilidades  possam resgatar sua autoestima, bem como construir sua identidade social na forma de  uma cidadania plena.

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